Há tipos que antes de o serem já o são; Jamie N Commons é um deles. Commons é um puto novo que soa a um cinquentão rouco e quase acabado, semi-afogado em Jack Daniels, com os pulmões cheios de Marlboro. Antes de chegar a velho, já o é. E as letras sobre suicídio, pecado, religião e purgatório são a extensão dessa alminha jovem mas velha, imberbe mas de barba rija. Produto de marketing? Jamie não diz que não. Porque a voz que tem – e que se cola à de Tom Waits ou Joe Cocker – é uma invenção sua, ele que sempre quis ser o Gregg Allman dos Allman Brothers. Mal por mal, é melhor ter boas referências que más e o trabalho que lhe deu alinhar as cordas vocais com a dos seus heróis valeu a pena. Porque ao contrário do que o apelido possa sugerir, Commons é tudo menos comum.
Jamie N Commons mostrou-se ao mundo quando uma das suas canções ambientou a sinistra série “The Walking Dead”. Foi o tiro de partida. Quem seria aquele americano? Pergunta errada. Commons é inglês, um beef que se aventurou pelos Estados Unidos quando o pai por lá trabalhou. Da infância até aos 16 anos, Jamie foi americano, comeu como um americano, bebeu como um americano e ouviu como um americano. O primeiro concerto a que assistiu foi dos Allman Brothers, claro está. Quando regressou a Inglaterra (e a Londres), trouxe com ele a música sulista, o swamp-rock, a The Band, e por aí fora. Estudou música, à séria, e até foi colega de carteira de James Blake. (Felizmente para nós – ou para mim, vá – não foi em lérias ou falsetes) Depois, arrebanhou bons músicos que lhe deram cor e corpo às melodias que compôs.
Nesta primavera saiu o seu EP. Rumble and Sway, com cinco músicas boas, mas boas. A melhor de todas é a “The Preacher”, uma Johnny Cash/Nick Cave look-a-like, com uma letra negra e sombria acompanhada por um dedilhado clássico e simples. A que dá o título ao EP tem mais soul e a “Caroline” (uma demo) transpira a Ray LaMontagne por todo os lados. Quanto às outras duas, deixo-as ao vosso critério porque honestamente estou a modos que viciado neste rapaz de chapéu de cowboy – como terão percebido, o cinismo do primeiro parágrafo foi-se diluindo palavra a palavra até só restar um elogio sincero.