Gravado em apenas algumas semanas, “No No No”, o último álbum de Beirut, é o culminar de um caminho tortuoso de Zack Condon, a mente atrás do e som tão característico da banda.
Condon já admitiu que os últimos anos tinham sido difíceis a nível criativo e também pessoal e nas letras deste disco nota-se um tom de salvação e sobrevivência, a começar logo com “Gibraltar”, a faixa que abre este quarto longa-duração.
O tom de arranque é bem-disposto e quase estridente, com o piano a sobrepor-se praticamente a tudo, marcando o mote para as faixas seguintes, embora as letras sejam mais obscuras.
Segue-se o ‘single’, “No No No” provavelmente a melhor faixa dos disco e a que mais se assemelha aos trabalhos antigos de Beirut. Temos trompetes, temos arranjos simples mas ritmados, temos sintetizador apenas para marcar o tom. Se todas as faixas fossem mais como “No No No” teríamos um disco digno de Beirut mas logo na faixa seguinte percebemos que Zack Condon nos quer levar por um caminho mais obscuro.
“At Once” ainda nos faz lembrar os temas tradicionais de Beirut, com as trompetas presentes, mas esse efeito perde-se ao longo do disco. Aliás, as trompetas praticamente desapareceram deste trabalho.
é um tema triste e simples, assente em piano e com os instrumentos de sopro habituais mas sem grande alma. E o mesmo se passa com as músicas seguintes. “August Hollande” é repetitiva mas a banda redime-se logo a seguir com uma comovente e instrumental “As Needed”. “Fener” regressa um pouco ao som tradicional de Beirut, jovial e alegre. A fechar “So Allowed”, uma despedida à altura, a deixar o bichinho para o próximo trabalho.
Apesar dos coros e dos vários instrumentos, que já nos habituámos a ouvir em Beirut, falta a simplicidade composta, a capacidade que Beirut tem de encher uma música de instrumentos, coros e crescendos mas mantê-la, ao mesmo tempo, leve, um equilíbrio entre a simplicidade e a epicidade. E sem trompetas.
Talvez Cordon tenha querido fazer uma coisa diferente ou talvez tenha percebido que tinha de se adaptar à evolução que a música sofreu nos últimos anos mas o resultado é um disco que não soa a Beirut. Não é um mau álbum mas falta-lhe aquele som característico e que agarra, tornando-se apenas mais um disco no meio de tantos álbuns indie e folk que já saíram este ano.