Os rótulos que muitas vezes se aplicam aos artistas são coisas tramadas. Colam-se e já não os largam mais. Determinam críticas, ouvintes, e podem até ensombrar-lhes a liberdade artística. Mas se, em determinados casos, isso é negativo, outros há em que os músicos em questão beneficiam desse sublinhado. Na banda em questão, os Brass Wires Orchestra, desde muito cedo que os nomes Beirut, Guillemots, Fleet Foxes e Mumford & Sons lhes são associados, e, pelo calibre dos nomes que giram à sua volta, poderíamos tecer várias apreciações. Algumas abonatórias, outras nem tanto, dependendo da perspetiva de cada um e do gosto acerca das bandas em causa. Acresce o facto dos Brass Wires Orchestra serem portugueses, o que para muitos opinadores parece ser sempre (ou quase sempre) uma característica desmerecedora em si mesma, o que nos parece uma tontearia de primeira água. Enfim, é o que temos, e o que temos hoje é o primeiro longa-duração da já referida banda lusitana, cujo álbum dá pelo nome de Cornerstone.
Os Brass Wires Orchestra andam nesta vida há cerca de três anos e, nesse ainda curto período de tempo, muitas coisas dignas de valor já lhes aconteceram. Foram, por exemplo, vencedores do concurso Hard Rock Rising 2012 a nível nacional, o que os levou à participação internacional do mesmo evento. E não se pode dizer que os Brass Wires Orchestra se tenham saído mal, uma vez que garantiram o segundo lugar entre mais de 12 mil bandas! Entretanto, foram acumulando presenças em festivais (Vodafone Mexefest, Paredes de Coura e Alive, por exemplo) e começaram a sentir a necessidade de gravar um primeiro manifesto sonoro demonstrativo do seu valor e da sua visão musical. Amantes das sonoridades folk, os Brass Wires Orchestra editaram, finalmente, em junho de 2014, o seu primeiro trabalho, o já mencionado Cornerstone. Composto por 10 canções, Cornerstone cimenta a ideia de que este octeto português sabe o que faz e faz o que quer. Os temas falam de amor, de sentimentos de perda, de circunstâncias do dia-a-dia. Dentro do espaço musical que escolheram como caminho a trilhar, mostram-se perfeitamente à vontade, e o registo, no seu todo, tem merecido críticas satisfatórias. Também por aqui expressamos o nosso agrado por Cornerstone. Longe de ser (para os nossos gostos particulares, entenda-se) um dos discos portugueses do ano, na verdade o que aqui se ouve cumpre os requisitos de quem gosta de Mumford & Sons – e nós não fazemos parte desse número – ou de Beirut – e aqui já apreciamos mais um bocadinho. Estas duas referências (os tais rótulos, como dissemos no início destas linhas) não são negadas por Miguel da Bernarda, Hugo Medeiros, Afonso Lagarto, Rui Gil, Luís Grade Ferreira, Zé Valério, Nuno Faria e Zé Guilherme Vasconcelos. Assumem esses gostos, essas influências, e vivem bem com isso. Nada como a transparência para que tudo se esclareça sem subterfúgios nem falsidades. Tudo é evidente, e isso joga a favor da banda.
Uma última nota para a cuidada apresentação gráfica da capa, que por razões ínvias me fez lembrar o projeto gráfico dos Super Furry Animals, da fase Phantom Power. Ouçam Cornerstone sem preconceitos (como nós tentámos ouvir) e concordarão (se assim tiver de ser) que a música portuguesa está bem viva e vai seguindo o seu caminho, mesmo que, como no presente caso, seja cantada em inglês. O máximo que podemos deles dizer é que os Brass Wires Orchestra são sérios e competentes, predicados que nem sempre podemos juntar a todos os sujeitos, como bem sabemos.