Mil novecentos e noventa e dois. Uff… Enquanto escrevo estas linhas paro um pouco para pensar no tempo que já passou. 21 anos é de facto uma vida e o misto de emoções que me surgem ao regressar atrás e à frente no tempo é algo avassalador. Em 1992 tinha doze anos, ainda frequentava o 6º ano (ou o 2º do antigo ciclo) e a febre dos Nirvana já me tinha atingido. Surgiu com o Nevermind e seu “Smells Like Teen Spirit”. Como já tinha um walkman na altura decidi antes comprar a cassete para tê-la sempre comigo. Penso que a estoirei de tanto ouvir, já que nem sei onde se encontra. Algures na arrecadação dos meus pais. Assim o espero. Mas retomando a questão de 1992 resta dizer que após ter ouvido até à exaustão o já referido Nevermind, a demanda agora era maior. E tudo o que saísse de Nirvana, fossem revistas, posters, cds piratas, tudo era motivo para esbanjar a (pouca) mesada. Kurt Cobain e Nirvana tornaram-se quase numa obsessão ao ponto de criar uma certa barreira contra os “adversários” do grunge. Nirvana era o meu grupo. Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains, Stone Temple Pilots ou, principalmente os Guns ‘n’ Roses eram os inimigos. Conseguia ouvi-los mas não os amava. Os Nirvana foram os meus Beatles dos anos 90.
Se a memória não me falha, Incesticide é editado no final de 1992 e surge um bocado na bruma. Nos tempos da MTV, Blitz e pouco mais (sim, não havia internet nem informação gratuita a um simples clique), a notícia de um novo disco dos Nirvana apanhou-nos meio desprevenidos. O que era este Incesticide? A própria capa do disco não era conclusiva. O lettering do nome da banda era diferente e alguns cds tinham um autocolante na caixa e outros não, levantando a dúvida se este seria um disco de originais com um disco bónus de raridades ou se ele todo era um disco de raridades e b-sides. Evidentemente comprei-o e ouvi-o, mais uma vez na exaustão até à saída daquele que considero ser o melhor disco de Nirvana, In Utero.
Incesticide é, contudo, um disco magnífico pela sua própria confusão sonora. São os Nirvana a quererem ser os Beatles, são os Nirvana a quererem ser os Vaselines, são os Nirvana a quererem ser os Black Sabbath, são os Nirvana a quererem ser os Led Zeppelin, são os Nirvana a quererem ser os Devo,são os Nirvana a quererem ser os Stooges, são os Nirvana a quererem ser os Nirvana. E em “Dive” vemos logo que não estamos bem no campeonato de Nevermind. Os Nirvana aqui estão mais soltos, crus como em Bleach mas com uma diversidade temática só encontrada em Incesticide. E quem pense que este é o álbum mais soturno dos Nirvana engana-se pois é aqui que encontramos as músicas mais “pop” de Kurt Cobain, entre originais (a infantil “Sliver” gravada em 1990 mas lançada em 1993 com a filha de Kurt, Frances Bean a aparecer no videoclip) e covers (Molly’s Lips e Son of a Gun dos Vaselines, banda essa que viria a ser alvo de cover no Unplugged). No reverso da medalha temos a segunda parte do disco com tom muito mais agressivo e cáustico como em “Beeswaxx”, “Downer” ou “Big Long Now”. No fim de Incesticide encontra-se a música que resume o que eram os Nirvana. Força, angústia, distorção, sentimento e acima de tudo, melodia. Em “Aneurysm” está tudo lá e não é por acaso que era uma das favoritas dos concertos.
Incesticide poderá até ter acontecido por uma tentativa da Geffen em ganhar algum dinheiro à conta do fenómeno que Nevermind trouxe, no entanto, o disco é tão bom e tão variado que hoje em dia ninguém o vê como apenas uma colecção de singles, lados B ou versões mas sim como um disco ao nível dos outros originais e que não destoa nem um pouco na colecção Nirvana.
é belo disco, é.