Estão em todos os guetos. No rock, no metal, nos indies, nos punks, até no canto dos kraut e seguramente que não faltam na festa da Bossa. Um grupo à parte, gente fina, coisa de elite, clube restrito aos que só oferecem produto gourmet. A especialidade é irrelevante. Pode ser Chico ou Beck, Clapton ou Morissey, Coltrane ou o Bowie. Para pertencer, estar vivo é opcional, ser génio não. Com direito a lugar cativo, os De La Soul.
Intocáveis no reino do Hip Hop, velha guarda com direito a vénias de toda a nobreza, os De La Soul tinham falido. Guerras com editoras, pouca promoção e, imagino, ainda menos vendas. Concertos também não seriam muitos e só com uma campanha de crowdfounding conseguiram chegar ao disco que agora lançam. Mas em disco, todos o sabem, os De La Soul não falham, e a recolha do dinheiro foi mesmo a parte mais fácil: pediram 100 mil dólares, ao fim de dez horas tinham dez mil a sobrar e acabaram por receber 600 mil. Retribuíram com música gourmet.
Com Jill Scott, Snoop Dog, David Byrne e Damon Albarn no topo da lista dos convidados, não falta nada a And the Anonymous Nobody. Tem “Pain” para lembrar que sabem como poucos balançar hip hop, tem “Royalty Capes” para que ninguém julgue que se brinca com assuntos sérios e ainda “Memory of … (US)”, uma bela balada, bem raro no hip hop. Também é verdade que tem Usher (“Greyhounds”), em “Lord Intended” outro dispensável toque de azeite e que o momento de Albarn (“Here in After”) nem é particularmente inspirado.
Com entrada direta para a lista dos grandes momentos musicais do ano, And the Anonymous Nobody pode ajudar a relançar a carreira de uma das instituições sagradas do hip hop ou pode apenas servir de epílogo a uma carreira a que não faltaram pontos altos. Os baixos? Ainda hoje os usam para nos fazer balançar.