Em 1992, Justine Frischmann, recém-despedida dos Suede após partir o coração de Brett Anderson e substituir os ensaios pela companhia de Damon Albarn, decide formar uma banda com o baterista Justin Welch, também ele membro de uma formação prévia dos Suede e em tempos ainda mais remotos “teaboy” do nosso Álvaro Costa numa rádio inglesa. Com a entrada da baixista Annie Holland e da guitarrista Donna Matthews, fica completa a formação dos Elastica, cujo primeiro álbum (homónimo) apenas sairia em 1995 pela Deceptive Records de Steve Lamacq, uma das principais vozes da BBC Radio 1.
Elastica é um álbum acima de tudo rápido. Os 16 temas passam em cerca de 40 minutos, sendo que 4 deles nem aos 2 minutos chegam. Não que lhes fique a faltar alguma coisa, bem pelo contrário. A urgência quase punk não retira densidade e apelo pop a temas como «Annie, «Smile», «All Nighter» ou o emblemático «Vaseline», um hino aos lubrificantes com direito a «la-la-las».
Não faltam também riffs de guitarra ou baixo que se colem aos ouvidos durante horas, mesmo que alguns deles denotem influências demasiado flagrantes dos Wire ou dos Stranglers. Estes últimos ganharam mesmo direitos de co-autoria no single «Waking Up», por semelhanças com o seu «No More Heroes». Podem também ser encontradas ligações entre «Line Up» e «I Am The Fly» dos Wire, ou entre «Connection» (provavelmente o tema mais marcante da banda, pouco mais de 2 minutos da Britpop no seu melhor, com sintetizadores tocados por Damon Albarn disfarçado de Dan Abnormal na ficha técnica) e «Three Girl Rhumba» também dos Wire.
Não se fique contudo a pensar que estes pequenos «lapsos de originalidade» retiram mérito ou importância a este álbum. Devem antes ser vistos como uma homenagem às influências da banda e uma transposição a outro contexto e uma contemporaneidade que os originais já teriam eventualmente perdido. E o contexto de Elastica é cheio de atitude, garra e bastante sexy. Para além do já referido «Vaseline», «Car Song» é uma ode ao sexo em bancos de trás e capots de Ford Fiestas e Hondas, enquanto «Stutter» aborda duma maneira deliciosamente sarcástica a impotência dum parceiro.
A chama dos Elastica pode ter-se enfraquecido entre mudanças de formação e a nuvem de narcóticos em que Justine Frischmann se envolveu, mas este álbum é uma explosão fantástica de se ouvir e obrigatória na galeria dos momentos de ouro da Britpop.
