Eis-nos chegados à segunda edição do grande festival Primavera Sound! Depois de uma extraordinária estreia no ano passado, o Parque da Cidade no Porto volta a acolher este festival que se espera ter vindo para ficar.
O primeiro dos 3 dias é sempre mais curto. Apenas os dois palcos principais vão nos dar música, mas como era de esperar, é da boa! O Primavera abre as hostilidades no palco Super Bock com Guadalupe Plata, um trio de andaluzes que promete surpreender com a sua sonoridade Blues mississipianos. Segue-se troca de palco para o lado Optimus que se estreia com os Merchandise, uma banda norte-americana com influências que passam desde os Swans aos My Bloody Valentine. Vêm apresentar o seu álbum de estreia “Children of Desire”. Logo a seguir sobem ao palco os Wild Nothing, projecto de Jack Tatum que traz dois excelentes álbuns na bagagem, “Gemini” e “Nocturne”.
Às 21h00 entram em cena os Breeders! Mítica banda dos anos 90, vem tocar o seu álbum de maior relevo “Last Splash”, e quem nunca dançou ao ritmo de “Cannonball”? Não estiveram na primeira linha do grunge mas acompanharam esses tempos áureos e este “Last Splash” deve estar presente em qualquer biblioteca musical que se preze.
Nova mudança de palco para ver Dead Can Dance. Para quem não sabe, os Dead Can Dance já andam nestas andanças desde 1981. Liderados por Lisa Gerrard e Brendan Perry, trazem uma carreira recheada com 8 álbuns, sendo o último editado em 2012 chamado “Anastasis”. Este marcou o regresso da banda 16 anos depois do registo anterior. Nome muito forte do cartaz, em especial para recordar “The Serpent’s Egg”, de 98, um dos melhores álbuns do grupo.
Continuando o estilo meio sombrio, mas agora um pouco mais movimentado, seguem Nick Cave & The Bad Seeds. Escusado dizer seja o que for. Nick Cave é Nick Cave, um dos monstros sagrados da música actual. “Push the Sky Away” é o último registo do australiano com a sua fiel banda, já deste ano, e que promete ser um grande espectáculo.
Nesta primeira noite, o palco Super Bock fecha com os Deerhunter. Também com novo álbum de 2013 (“Monomania”), os norte-americanos não deixarão com certeza de nos fazer também dançar ao som de “Microcastle” ou “Halcyon Digest” e preparar o ambiente para, logo a seguir, no palco Optimus, James Blake encerrar este primeiro dia do Primavera Sound. Blake também dispensa apresentações. O inglês de apenas 24 anos e ainda com apenas 2 discos na manga, já foi nomeado para tudo o que são prémios da especialidade.
31 de Maio
No dia 31, o festival alarga o espaço a mais dois palcos – ATP (para quem não sabe, é a editora responsávelo por lançar bandas como Deerhoof, Fuck Buttons ou Spiritualized) e Pitchfork (a reconhecidíssima publicação dedicada à música) e serão no total vinte e duas bandas/músicos a passar pelos três palcos do Primavera Sound. Eu admito que este é, de forma muito ingrata, o melhor e o pior lado dos festivais. Falo da corrida frenética entre palcos, contra o tempo, concorrendo para a linha da frente dos concertos programados, e a possibilidade de apanhar os highlights do dia. E se por um lado há algo nesta adrenalina que nos faz vibrar cheios de vida, a verdade é que as probabilidades de conseguirmos tê-los todos na mão são mínimas. Dificulta-nos ainda mais a vida quando um festival é coerente e consistente no cartaz que apresenta.
Falemos então do que se irá passar neste dia. É inevitável começar pela triste notícia sobre o cancelamento de Rodriguez que após longos meses em digressão viu finalmente o seu corpo de 70 anos a ceder ao cansaço, Vemo-nos então privados da sua companhia, mas em prol de uma recuperação de fôlego para que mais tarde um público mais sortudo possa desfrutar da sua energia.
É tempo de começar o segundo dia, ao som de Neko Case, songwriter (membro dos The New Pornographers e The Dodos), que se apresenta finalmente através do seu projecto a solo, com ares de folk e algumas guitarradas indie rock. Às 20h será a grande oportunidade de conhecer Local Natives ao vivo mais o seu mais recente “Hummingbird”. À mesma hora toca Daniel Johnston, no Palco ATP, e não fossem os Local Natives os Local Natives, esta seria certamente a minha primeira escolha. O aspecto caseiro e honesto com que o músico compõe o seu trabalho é bonito e cativante, e espelham o universo muito particular, que é o de Johnston, que se torna imperativo descobrir.
E enquanto os ursos pardos não entram em palco, é aproveitar e ouvir um pouco de SVPER, o duo que nos vai relançar para o pop underground de “PEGASVS”, um projecto bastante interessante que cruza o sintetizador do australiano Sergio Pérez e a voz melódica da argentina Luciana della Villa, que vale a pena conhecer melhor.
E agora podem parar tudo, chega a vez de Grizzly Bear, e este é um concerto que ninguém vai querer perder. Uma das bandas mais extraordinárias dos últimos tempos, volta agora para apresentar o indescritível “Shields”, e dar-nos a ouvir de novo algumas das faixas de “Veckatimest”, o álbum que definitivamente marcou a banda no meu coração. Quem já viu, vai saber o bom que o/a espera, quem nunca viu, vai sair a querer mais.
Fôlegos repostos, pulmões e corações reabastecidos, preparem-se para receber a grande cabeça de cartaz deste dia. Blur, há muito (se não demasiado) tempo esperados pelo público português. A banda inglesa dispensa a qualquer um qualquer tipo de apresentações. Por isso, é viver o concerto, como quem vive as velhas e boas memórias dos anos 90, dos tempos em que os Blur nos guiavam pela adolescência ao estilo de “Parklife”.
Para finalizar, a cereja electrónica no topo do bolo que é este dia, Glass Candy ou Fuck Buttons (ambos tocam à mesma hora). É escolher e deixar-se ir, que o segundo dia já estará certamente ganho.
1 de Junho
No terceiro e último dia de Primavera Sound teremos novamente que nos desdobrar em quatro palcos, o Optimus, o Super Bock, o ATP e o Pitchfork.
O dia arranca às 17h no palco Super Bock com os portugueses The Glockenwise, a apresentar o segundo disco e que ajudarão a aquecer para The Drones, nesse palco às 19h05.
Mas se preferirem uma onda mais electrónica podem ir ouvir o duo sueco Roll the Dice no palco ATP, apostando nos sintetizadores e que são uma das apostas para a música electrónica nos próximos anos.
Passagem obrigatória, neste arranque, pelo palco Optimus, para ouvir os catalães Manel, que apostam num misto de folk-pop.
De regresso ao palco ATP às 18h30 para os Degreaser, que apostam em distorções de rockabilly, fuzz e punk. Uma das apostas alternativas deste final de tarde a que se segue, às 20h20, os portugueses Paus. A bateria siamesa já dispensa apresentações e tem sido uma presença constante nos festivais, prometendo novamente um espectáculo poderoso e cheio de ritmo.
Os fãs de Dinossaur Jr. não vão poder ver o concerto de Paus até ao fim. Às 20h20, no palco Optimus, a banda que já acabou e voltou a juntar-se na formação original em 2007, com “Beyond”, tem habituado o público a concertos intensos e apresentam o novo álbum, “I Bet On Sky”, lançado o ano passado. Este é um dos concertos imperdíveis deste último dia de Primavera Sound.
Se não quiserem ver Dinossaur Jr. até ao final há várias opções espalhadas pelos diferentes palcos. No Super Bock, Los Planetas trazem indie-rock espanhol, às 21h30. No palco ATP, o toque mais jazz de The Sea and The Cake é imperdível, pelo menos durante alguns minutos antes de rumar ao palco seguinte; e a inaugurar o palco Ptichfork, às 21h, está o duo catalão L’hereu Escampa, às 21h, seguido de Daugh Gibson, que apresenta a sua fusão de country e electrónico às 22h10.
O electrónico melódico tem os seus principais representantes com Explosions in the Sky, às 22h45. Os texanos apostam nos arranjos e crescendos e apresentam uma faceta mais post-rock com “Take Care, Take Care, Take Care”, o seu último disco. Quem preferir guitarras mais vincadas o melhor é dirigir-se para o Palco ATP onde, às 23h, os White Fence mostram o seu lado mais psicadélico, com influências de Pink Floyd.
Às 23h50 é a vez do punk-rock dos britânicos Savage no palco Pitchfork e 20 minutos depois os Liars abrem o palco Super Bock à electrónica, depois de terem nascido, há dez anos, como banda post-punk, fechando a noite de concertos neste espaço.
Nurse With Wound, no palco ATP às 00h25, merece uma espreitadela. O projecto experimental começou em 1978 e mistura rock experimental, música ambiente e tudo o que se puder imaginar. É dançar pela noite fora e aguardar o alinhamento do próximo ano.
(textos de Francisco Pereira, Patrícia Cuan e Cátia Simões)