Tribalistas aterram finalmente em Portugal para mostrar o trabalho conjunto de três artistas maiores da música cantada em português. Viva o Brasil!
A espera já ia longa. Afinal de contas, o primeiro disco dos Tribalistas é do distante ano de 2002, mas por razões várias a banda preferiu nunca embarcar numa tournée enquanto grupo (até porque cada um tem a sua carreira em nome próprio). Foi, portanto, com surpresa e alegria que a notícia de novo disco em 2017, e depois de uma tour em 2018, atingiram os escaparates. E Portugal (Lisboa e Porto) não podia faltar na lista de “eleitos” para receberem “Arnaldo, Carlinhos e Zé”.
Lisboa foi a eleita como primeira data europeia (serão um total de 10 concertos no Velho Continente) e o Altice Arena o local escolhido pela produção do concerto (opção, a nosso ver, questionável, devido aos já sobejamente conhecidos problemas de acústica de que sofre o pavilhão quando não está cheio – como foi o caso de ontem – e aos quais podemos adicionar uma estranha configuração de sala, onde a Plateia VIP se extendeu até meio do pavilhão, com 35 filas, levando, no limite, a alguém que pagou 75€ ficar na 35ª fila…). No Porto, o concerto terá lugar amanhã dia 23, no Coliseu Ageas.
Nada como arrancar com “Tribalistas”, música que dá o mote ao conjunto, que explica de onde vêm e ao que vêm. E logo aqui há que salientar o cenário criado para o show, obra do artista visual e designer Batman Zavareze (conhecido também por ter sido responsável das projeções nos Jogos Olímpicos do Rio 2016) que encheu a sala de ilustrações dos músicos, entrecortadas com as letras das músicas, vídeos caseiros de cada um na sua infância, imagens de videoclips e close-ups dos três Tribalistas em palco. Foi claramente um dos pontos altos do concerto, com destaque para o ambiente criado em “Tribalistas” e “Carnalismo”.
Mas voltando à música, aqui há que dizer que o concerto arrancou bem, mas logo arrefeceu, perdendo energia e impacto com a chegada de músicas mais calmas. Ficámos com a sensação que deixaram acalmar demasiado ali pelo meio e talvez com menos 2/3 músicas isso não teria acontecido. Guardaram para o final todos os trunfos, criando um êxtase de 10/15 minutos já com o público de pé e “encostado às grades”, mas até lá a sensação geral, mesmo olhando à nossa volta, era de alguma apatia. Carlinhos Brown foi o mais dinamizador, puxando pelos braços dos fãs até à exaustão, mas um público sentado é sempre mais difícil do que um público em pé, e sendo domingo à noite, importa recordar a letra de “Trabalivre”:
Domingo boto meu pijama
Deito lá na cama
Para não cansar
Segunda-feira eu já tô de novo
Atolado de trabalho para entregar
Arnaldo Antunes pouco se ouvia, o seu microfone pareceu sempre baixo, e quando subia o tom de voz não parecia o adequado. Marisa, bem, Marisa é Marisa, uma diva imponente e que conquista a cada trejeito e a cada palavra. Foi através dela que nos foi explicado o processo de seleção das músicas para o show, algumas que constam dos seus álbuns em nome próprio, mas que foram trabalhadas pelos três e, como tal, foram incluídas no setlist – casos de “Não é fácil”, “Universo ao meu redor”, “Infinito particular”, “Amor I Love You” e “Vilarejo”, entre outras. A mistura entre os temas dos dois álbuns fez-se de uma forma perfeitamente natural, ninguém sentindo a distância de 15 anos entre ambos e assim, a conjugação é perfeita entre “Carnalismo” e “Aliança”, entre “Carnavália” e “Um Só”. Encaixam que nem uma luva, como se fossem músicas seguidas de um mesmo álbum e é de louvar essa feliz conjugação.
Como não podia deixar de ser, pairava no ar o peso da situação política do Brasil. Haveria alguma intervenção por parte da banda sobre o tema? Em conferências de imprensa preferiram sempre manter-se afastados, refugiando-se no positivismo e esperança por um futuro melhor que são sempre defendidos como conceitos base dos três membros tribalistas. E não reagiram a alguns gritos da plateia de “Ele Não!”, mas a mensagem passou mais à frente, de forma mais clara e mais positiva possível – Marisa lançou uma lista de vivas, à democracia, à arte, à cultura, à diferença, à educação, à diversidade. Para bom entendedor…
O final, bem, o final foi o êxtase referido acima. Público em abraços junto ao palco, dançando e cantando ao som de “Passe em Casa” e “Já Sei Namorar”, recebendo flores atiradas por Carlinhos, Arnaldo e Marisa, e guardando o momento para a posterioridade nos seus telemóveis. Sorrisos a rodos entre todos e uma boa dose de alegria e esperança no futuro. Venha o que vier, viva o Brasil!
Fotografia: Mafalda Piteira de Barros
Setlist:
Tribalistas
Carnavália
Um só
Vilarejo (Marisa Monte)
Anjo da guarda
Fora da memória
Diáspora
Água também é mar (Marisa Monte)
Um a um
Ânima
Velha infância
É você
Carnalismo
Aliança
Até Parece (Marisa Monte)
Não é fácil (Marisa Monte)
Sem Você (Arnaldo Antunes)
Lá de longe
Lutar e vencer
Universo ao meu redor (Marisa Monte)
Infinito particular (Marisa Monte)
Paradeiro / Consumado (Arnaldo Antunes song)
Amor I Love You (Marisa Monte)
Depois (Marisa Monte)
Trabalivre
Passe em casa
Já sei namorar
Encore:
Velha infância (reprise)
Tribalistas (reprise)