No passado dia 20 de Outubro, Mallu Magalhães pisava o palco do Coliseu dos Recreios, da forma mais sui generis – não estivéssemos a falar de quem estamos. Acompanhada por uma banda bem composta, tivemos direito a bateria, percussão, baixo, guitarra, saxofone, trompete, flauta e pandeiretas tais.
Debutou com “Pelo Telefone”, tema do seu mais recente álbum Vem – esse que foi o apontado a ilustre da noite com excepção boquiaberta do single “Você Não Presta” e não deixou esconder traços nervosos de quem está consciente do impacto do momento. Por entre tons azuis bailados de luzes, seguiam-se bossas atrás de bossas numa miscelânea com um indie rock quente. Com “Me Sinto Ótima” abandonava um tanto do nervosismo e o público revelava-se presente. Mallu deixava transparecer toda a gratidão que sentia por estar ali, connosco, naquela imponente sala, e não se poupava a obrigados: “Devo passar a noite toda a agradecer. Estou muito feliz!”. Seguia-se um “Sambinha Bom” no sentido mais literal, e as cadeiras começaram lentamente a acompanhar o gingar da anca.
Por entre sorrisos revela-nos que as suas músicas são resultado dos lugares por onde passa, e introduz assim “Navegador”, ao contar que esta foi escrita dado um episódio que se passou “numa rua daqui, desta zona”, que viu um menino a descer uma ladeira, triste mas simultaneamente vigoroso e com um passo firme e confiante, que trazia certamente um desgosto amoroso, e decidiu unir essa história a outra semelhante de um caso amigo. De vestido branco aéreo e delicado passava uma escolha de canções não tão surpreendente quanto se podia esperar, e a monotonia que podia de alguma forma ser causada foi combatida pela serenidade e tom gracioso que é tão característico da cantora paulista. Depois de interpretar “Culpa do Amor” a banda abandona o palco, e o ambiente mais afetivo toma lugar.
Num tom etéreo entoou “Olha Só Moreno”, de Pitanga, o terceiro álbum de estúdio da cantora. Seguia-se “Janta”, a canção do álbum Sou de Marcelo Camelo, celebrizada pelos dois na forma de dueto. No entanto, ao contrário do que tudo indicava, o Coliseu não teve direito a uma reprodução desse momento, ainda que Marcelo faça parte da banda que acompanha Mallu.
Suspiros à parte, houve tempo para assobiar um samba da autoria de Luiz Bonfá, esse carioca gigante da Bossa Nova.
“Ô Ana” foi a música escolhida para intervalar mais uma bonita versão celebrizada por um ciclónico vulto da música brasileira, João Gilberto, com o tema “Brigas, Nunca Mais”. A banda voltava a palco e seguiam-se “Linha Verde”, “Gigi” e “Será Que Um Dia”, três temas do álbum Vem.
Rapidamente entrámos na onda da Banda do Mar – da qual Mallu faz parte, juntamente com Marcelo Camelo – com “Mais Ninguém” e “Muitos Chocolates”, que deixavam o público satisfeito com a escolha.
De pés voltados para dentro e timidez em riste cantava “Quando Você Olha Para Ela”, música que escreveu para Gal Costa interpretar, seguida de “Culpa”, música do brasileiro Tim Bernardes que nos visita já no próximo mês, e, antes de sair para encore, como não podia deixar de ser, “Velha e Louca”, grande sucesso e faixa responsável pela abertura do disco Pitanga, que fez muita gente naquela sala passar metaforicamente o bom do batom vermelho. Volta então sozinha para fazer um encore que começou surpreendentemente com uma música nova – “Novas Belezas” – que “ainda nem está gravada e estragando já a surpresa a banda entra e acaba em grande”.
E, palavras ditas e feitas, a banda torna a palco para tocarem “Love You” seguida de “Vai e Vem”
que trouxe a felicidade em microsegundos. No fim da noite eternizava-se a noção de que a simplicidade casa muito bem com um Coliseu tão grande e tão cheio – de pessoas e de gratidão.
Fotografia: Inês Silva