Forcefield remete-nos para um conceito constante em qualquer infância feliz e activa. Campo de forças: uma barreira de energia capaz de proteger o que envolve de ataques / intrusões exteriores. A nossa pequenez da altura, repleta de um imaginário espacial e animado, simplificou um complexo conceito ainda hoje incógnito à ciência. Mas para os Tokyo Police Club tal conceito não é estranho, de todo.
Os Tokyo Police Club estrearam-se em 2007 com o EP A Lesson in Crime, que os elevou de imediato ao estatuto de «The Strokes canadianos». Estes quatro rapazes, cuja intenção de fama era nula, atingiram um patamar gigante para a sua pequena idade. Em 2008 satisfizeram as expectativas com Elephant Shell, o primeiro longa-duração. Foi desta maneira que assumiram uma atitude saltitante e jovial, como se pôde observar com o single «Your English Is Good». Refrões e riffs catchy, acompanhados por uma voz docemente depressiva, sustentada por um baixo melodicamente directo e por uma bateria veloz e ágil, fazendo lembrar Pretty Girls Make Graves, típicas das colheitas do new wave do início do segundo milénio. O sintetizador e a guitarra eram melódicos e embalantes, com a missão de criar a atmosfera intencionada. Os TPC tinham encontrado a sua fórmula. Esforçaram-se por reutilizarem-na no álbum seguinte, com o nome Champ (2010).
Após quatro anos de jejum, no que lhes toca a discos de originais, regressam. Mas não da mesma forma. Numa entrevista dada à Pitchfork, depois de Champ, os TPC decidiram proteger-se de toda a multiplicidade de tendências que iam aparecendo e desaparecendo. Porque, de acordo com o vocalista/baixista, eles não querem aparecer para desaparecer, mas sim fazer «algo que durasse». A banda filtrou as suas influências: a identidade da banda e a natureza musical dos seus membros era tudo o que era permitido. Tudo o resto intoxicaria a essência do que queriam. E daí a compreensão do título Forcefield: esta missão de emergência tornou-se numa redescoberta honesta da verdadeira identidade dos TPC.
Tal foi a emergência que a primeira faixa dita vorazmente os ventos da mudança. «Argentina (I,II,III)», uma canção sobre um amor antigo, impinge-nos nove minutos de juventude progressiva e solarenga; fazer isso, sem nos aborrecer, é uma tarefa difícil. Contudo as diferentes dinâmicas são uma lufada de ar fresco à imagem de marca dos TPC, que se reinventam como uma banda versátil e progressiva. E penso que é a diversidade que mais marca este novo álbum. Em «Hot Tonight» (o single do disco), «Miserable» e «Toy Guns» é-nos ditado um clima tropical, presente na maior parte do disco, sugerindo uma autêntica explosão pop: o amor ingénuo e efémero, com o típico refrão pastilha-elástica. Apesar da ténue fronteira entre os ritmos saltitantes pop e a foleirice, os TPC fizeram o bom trabalho de cruzar baterias a fazer lembrar Panic! At The Disco com melodias pop ligeiras, o que nos remete ao trabalho mais recente de The Wombats ou The Kooks. Em «Gonna Be Ready» a bateria introdutória, que também está presente no refrão, tem a frenética energia do início da clássica «I Bet you Look Good on the Dance Floor» dos Arctic Monkeys, com a inconfundível explosão de riffs de Wolfmother e o embalo dos versos de Oasis. «Through the Wire» e «Feel The Effect» podiam muito bem ser o final de uma tarde veranil, com as suas guitarras, na maior parte das vezes, arpejadas, mantendo sempre a sua disposição saltitante, em tons tórridos, dignos dum gin tónico junto à praia. No entanto este disco também tem o negrume do anoitecer em «Beaches» e na minha predilecta «Tunnel Vision». Apesar da minha modesta opinião, não resisti a entusiasmar-me com a notável fusão do poder do riff de baixo, semelhante ao de «Juicebox» dos The Strokes, com uma cavalgada digna de The Mars Volta e umas sombrias cordas de violino emuladas, fazendo lembrar o pós-punk dos The Names na sua canção «Calcutta». E, apesar de todas estas paranóicas referências, relembram-nos que são os Tokyo Police Club, introduzindo no tema seus distintos refrões catchy e pop.
Sem dúvida, os TPC fizeram os seus trabalhos de casa nos seus quatro anos de cativeiro, no que toca a temas originais. O isolamento deu-lhes perspectivas e, talvez até, o amadurecimento musical. Forcefield foi a demonstração de que os Tokyo Police Club não são uma mera imitação. Mas este disco também mostrou uma certa esquizofrenia, talvez positiva, talvez negativa. Só o futuro dirá se, com tantas possibilidades, perderão o fio à meada. Porque, afinal, um dia eles terão de sair do campo de forças para uma nova aventura.