A MPB continua a ser uma planta viçosa. A terra brasilis não deixa de nos surpreender. “Tudo que nela se planta, tudo cresce e floresce”. Sabemo-lo há mais de 500 anos, e por isso a apropriação da frase de Caminha faz também sentido para o mundo da música. É um filão inesgotável, mas nem sempre chegam a Portugal os discos dos melhores artistas que por lá vão surgindo. Por vezes, felizmente, essa sina não se verifica, e assim veio parar-nos às mãos o mais recente trabalho de Tiago Iorc, de nome Zeski.
À pergunta quem é Tiago Iorc?, dois tipos de respostas podem ser dadas. A primeira, mais formal e objetiva, diz-nos que nasceu em Brasília, embora boa parte da sua vida até se tornar adulto tenha sido passada entre Inglaterra e os Estados Unidos, o que acaba por ser notório no seu estilo e no repertório dos seus primeiros dois discos, cujas canções são todas cantadas em inglês. E ainda que o violão é o seu instrumento de eleição. A segunda, forçosamente mais interessante e menos objetiva, revela-nos um autor seguro da sua arte, e que o seu terceiro disco – o presente Zeski -, é um trabalho em que a vertente mais íntima se revela de maneira tocante. Na canção “It’s a Fluke”, as cordas do violão parecem hipnóticas, de tão belas. Mais ritmada, mas igualmente sedutora, “Skin Deep” tem o potencial de um hit, se houvesse alguma dose de justiça neste mundo… Mas há muito mais: com a participação de Silva, Tiago Iorc lança-se a “Forasteiro”, e um pop fresco e bom traz-nos a brisa calorosa que tem faltado neste verão. Boa canção para se cantarolar com um sorriso nos lábios. Em “Música Inédita” faz-se acompanhar da voz de Maria Gadú, e assim são já duas as participações de valor da nova MPB presentes neste Zeski. No entanto, e como a memoria é algo que nunca passa ao lado das cabeças mais atentas e antenadas, Tiago Iorc presenteia-nos com uma comovente versão de “Tempo Perdido”, despida e crua até ao osso, faixa do disco Dois, de 1986, do saudoso Renato Russo, e da igualmente saudosa Legião Urbana, também eles nascidos em Brasília. São, ao todo, 11 canções finamente fabricadas, dóceis e inquietas, cantadas ora em inglês, ora em português, havendo ainda nelas espaço para a canção instrumental que dá título ao disco.
Tiago Iorc e Zeski chegam, finalmente, a Portugal, e o Altamont, sempre atento, não poderia deixar de os aconselhar vivamente, estendendo o convite aos anteriores discos do músico brasileiro, que podem ser facilmente encontrados nos ares da net. Verá que por muito que a mala de férias esteja repleta de coisas boas, há sempre espaço para mais um objeto sonoro que poderá fazer do seu descanso, note bem, um tempo ainda melhor. Deixe-se levar por este Zeski, e nem sequer se preocupe em nos agradecer depois. Foi um prazer!
Linda resenha sobre este lindo – e grandiosíssimo, diga-se de passagem- trabalho do mais incrível e talentoso artista da nova geração de cantores. Espero que faça tanto sucesso em Portugal como faz aqui no Brasil – principalmente na minha casa.