Ao segundo disco, os White Stripes aperfeiçoam a fórmula e começam a cimentar a sua carreira. De Stijl é um disco carregado de boas canções, o que ajudou a definir a era do Indie Rock.
Tínhamos acabado de chegar ao ano 2000. O futuro parecia já aqui ao lado. Para trás tínhamos deixado as décadas míticas, desde os 50s aos 90s e a sua quantidade de bandas e géneros incríveis. No entanto, o presente na música rock não era bom. Com o suicídio de Kurt Cobain e o consequente definhar do grunge, o rock começou a ir para outros caminhos. Surgiu a Britpop, no Reino Unido e, um pouco mais tarde, o nu metal, nos Estados Unidos da América. O movimento bretão não chegaria, sequer, ao novo milénio, enquanto o género musical do outro lado do atlântico, liderado por bandas como os Limp Bizkit, Ko?n, Slipknot e Linkin Park, era o mais ouvido nesta viragem de milénio. O rock andava pelas ruas da amargura.
Enquanto isso, na Escandinávia, havia uma banda a fazer revivalismo do garage rock. Barely Legal, dos Hives, começava a despertar uma geração com saudades do rock puro e duro. Não demorou muito até se começar a ouvir esse som vindo de mais lugares. Em 1999, o duo composto por Jack e Megan White lança o seu disco de estreia. O álbum, homónimo, é cru e honesto. Guitarra, bateria e blues. A fórmula estava encontrada e um novo público começava a reagir a este movimento.
Logo no ano seguinte, os White Stripes lançam De Stijl, aperfeiçoando a sua fórmula e abrindo a porta para o movimento Indie que reinaria nessa década e arrumaria, de vez, com o som foleiro e balofo do nu metal.
Em apenas um ano, os White Stripes apresentam uma evolução na sua composição, dando mais alma às suas canções, e não comprometendo a sua personalidade. Se o primeiro disco era, basicamente, Meg e Jack à pazada nos seus instrumentos, em De Stijl há mais espaço para outras variantes, o que calha bem, sobretudo se tivermos em conta que o disco é dedicado ao bluesman Blind Willie McTell e ao artista holandês Gerrit Rietveld, um dos principais membros do movimento artístico De Stijl, como podemos observar na capa do álbum.
O duo, ainda reconhecidos como os irmãos White, dá-nos canções despidas e cruas, mas com uma pujança pouco habitual num conjunto tão curto. Jack White é fortíssimo nas partes da canções em que toca, mas também nas que não toca, já que o silêncio ensurdecedor entre as pancadas de Meg e o fuzz da sua guitarra criam uma aura característica do seu som.
Alguns anos antes da mega fama ganha com “Seven Nation Army”, já White surgia com uma confiança do tamanho do mundo, e tinha toda a razão para isso. Em De Stijl, o duo navega tranquilamente pelos vários estilos, seja nas viscerais “Let’s Build a Home” ou “Hello Operator”, seja mudando rapidamente de ambiente, com a melódica Led Zeppeliana “I’m Bound to Pack It Up”, a inspirada em Kinks “Apple Blossom”, ou ainda “You’re Pretty Good Looking (For A Girl)”, canção que abre o disco, que é uma cançoneta ao jeito dos anos 60, com Jack White a lamuriar-se a uma rapariga que gostaria de ser o seu rapaz, mas não o seu brinquedo.
Nas restantes canções que perfazem o álbum, é impossível ficar indiferente a cada uma que vai passando. Seja a lânguida “Little Bird”, seja “Death Letter”, cover de Eddie Son House, em que parece que White se transforma em Mick Jagger com o som dos Led Zeppelin.
A meio chega-nos a incrível “Truth Doesn’t Make a Noise”, onde Jack White mostra a tal evolução do seu som. A introdução do piano, juntamente com a guitarra acústica, intercalando com a eléctrica, adicionando uma letra pujante, mostram Jack White a chegar ao seu ponto mais alto.
Começando a fechar o disco, “Jamble Jamble” dá-nos mais um cheirinho de rock cáustico, enquanto “Why Can’t You Be Nicer To Me” parece uma canção perdida de Houses of The Holy.
Para último, Jack e Meg, a duas vozes, dão-nos uma bela versão de “Your Southern Can Is Mine”, original de Blind Willie McTell.
De Stijl acabaria por levar a banda a ganhar alguma notoriedade, ajudando a forjar o som que o novo público indie considerava como o da sua geração, mostrando que o som minimalista mas pujante dos White Stripes estava aí para ficar.