“Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, escreveu Lev Tolstoi em Anna Karenina e esta frase aplica-se na perfeição à família portuguesa dos The National. Na passada quinta-feira, no Campo Pequeno, uma congregação de milhares de familiares juntou-se para banhar aquela meia dúzia de tipos infelizes com um banho de amor, cada qual à sua maneira.
E se o novo disco do conjunto de Ohio I Am Easy to Find não é o melhor disco da banda, as canções novas não resultam particularmente mal ao vivo. É a energia contagiante e necessidade de criar contacto com o público de Matt Berninger (o melhor frontman do rock actualmente) e a intensidade com que a banda se dedica a cada canção que nos fazem esquecer aqueles acordes menos satisfatórios e baterias mais desinteressantes, concentrando-nos em lançar tudo o que está cá dentro para cima do palco.
As canções mais recentes são desfiadas logo ao início e depois foi altura de entrar em campo os discos passados. A medíocre “Day I Die” que ao vivo ganha uma pujança desmesurada e que leva Matt a passear-se pelo público do Campo Pequeno por entre beijos, abraços e lágrimas (e tudo o que os outros que não se chamam Diogo Barreto fizeram); “I Should Live in Salt”; “Pink Rabbits”; “The System Only Dreams In Total Darkness” e “Light Years”, com direito a dezenas de lanternas de telefone dirigidas a Matt. “Porra, nunca nos fazem isto. Vocês são incríveis.”
Como não poderia deixar de ser, houve tempo para uma surpresa no alinhamento e a honra desta vez coube a “Loooking fo Astronauts” do longínquo Alligator. E a partir daí vieram os clássicos. “Fake Empire”, um hino para os deprimidos; “Mr. November”, a canção para todos os falhados; “About Today”, a pérola dos desapaixonados; “Terrible Love”, o desaustino emocional completo e “Vanderlyle Crybaby, Cry”, a verdadeira forma de terminar um concerto de The National.
“I have only two emotions. Careful fear and dead devotion”, canta Matt em “Don’t Swallow the Cap”. Os fãs dos National podem ter até uma meia dúzia de emoções, mas “dead devotion” por aquela banda é certamente uma delas.
Os norte-americanos The National terminaram esta quinta-feira a sua digressão europeia com um concerto no Campo Pequeno, em Lisboa. Em 2020 vão espalhar amor no Rock in Rio.
Fotografia: Francisco Fidalgo