Ao segundo álbum, os portuenses The Lazy Faithful continuam a dar-nos o abençoado rock, mas trazem na manga uma maior complexidade sonora e mais espírito exploratório.
Depois da belíssima e certeira estreia com Easy Target, de 2014, os portuenses The Lazy Faithful chegam agora ao segundo longa duração, trazendo-nos logo uma promessa no título: Bringer of a Good Time.
Passaram-se três anos, e a curiosidade de saber o que evoluiu entretanto aguça-se logo na abertura, com “Minefield”. É um tema mais lento do que aquilo a que estes rapazes nos habituaram, mas isso não é necessariamente mau. Antes pelo contrário, o arranque do disco traz-nos um ambiente quase grunge cruzado com uns Led Zeppelin da colheita Houses of the Holy, sacado com brilhantismo.
Segue-se o petardo de “Nukin’ in the Cookin'”, que em menos de dois minutos nos traz de volta os riffs acelerados que são já a imagem de marca dos The Lazy Faithful. Esta sequência acaba por ser uma boa ilustração de Bringer of a Good Time, porque conjuga logo a abrir um crescimento sonoro sem perder aquilo que os tornou especiais.
Já “Bringer of a Good Time”, a música, é curiosamente das menos festivas do disco, voltando aquele travo grunge no refrão, que tão bem sabe e que pouca gente hoje em dia explora. “Queen Anne” é mais um exemplo de uma banda mais trabalhada e mais experiente, que aposta mais na construção melódica e nalguma complexidade (que não complicação) na composição. E sim, quase ouvimos o estilo de entrega vocal de Chris Cornell, sem deixar de ter um riff monolítico a cheirar a gasóleo e a estrada aberta.
“Never got to know” volta a baixar o ritmo mas não o nível. Um tema arrastado, que vai avançando e que poderia ter sido explorado em estúdio com mais pompa (a meio a voz parece prestes a levar a música para um terreno exploratório psicadélico, mas que acaba por não cumprir a promessa).
Segue-se “Seal my Fate”, a bater acima dos sete minutos. Ouve-se como uma declaração de ambição da banda que, depois de um arranque colado à canção se atira para uma desbunda de guitarras e de um baixo endiabradíssimo e que felizmente ficou bem acima na mistura. Se no tema anterior houve uma nesga para a banda descolar e esta hesitou, aqui mandou-se com toda a convicção para uma viagem de belo rock estelar.
“Baby don’t you know” é a música que mais nos caiu no goto, fruto de uma linha vocal muito bem sacada e daquele baixo vitaminado que cai tão bem. Não sabemos se os The Lazy Faithful andaram a tirar o pó aos discos dos anos 90, mas temos aqui mais um exemplo desse tipo de som. Obrigado.
A caminho do fim de Bringer of a Good Time temos ainda tempo para “There was a light”, música escolhida para protagonizar o vídeo que pode ver abaixo (que não nos agarrou particularmente mas cujo nível é elevado pela guitarra pujante bem no finalzinho e por uns toques de psicadelismo contido).
O disco encerra com o seu tema mais longo, a mutante “Beginning to end”, que começa suave e acústica até quebrar as amarras. Há espaço para várias fases, teclas, arranques, falsas partidas e um final de disco poderoso e significativo.
Bringer of a Good Time é um digno sucessor de Easy Target mas não se limita a jogar os trunfos seguros do primeiro tomo. A energia inesgotável e insaciável do disco de estreia deu lugar a uma banda mais madura, que alargou os ingredientes do seu cozinhado rock n’ roll e já se atreve a sair da zona de conforto do riff sem nunca o abandonar completamente.
É um disco mais ambicioso, mais completo, embora de início talvez menos entusiasmante e transbordante de energia juvenil. É o crescimento de uma banda, que a este ritmo pode trazer-nos coisas ainda melhores.
O disco, acabadinho de sair, teve a primeira rodagem ao vivo no portuense Maus Hábitos, com a vez do MusicBox, na capital, no dia 22 de Abril.