Foi com orgulho que o Altamont participou ontem como parceiro no Tradiio Live – a festa de lançamento da plataforma que tanto tem dado que falar. Para os mais distraídos, recordamos que o Tradiio é uma espécie de cruzamento entre o Spotify e a bolsa de valores, um jogo online onde apostamos moedas virtuais nos novos talentos da música portuguesa.
Mais de setecentas “beautiful people” compareceram no glamouroso Palácio Braancamp, ao Príncipe Real, bonita mansão do século XIX que se ergue altaneira sobre o velho casario do bairro alto. No seu agradável pátio ao lusco-fusco, começámos por dançar um bom soul em DJ set, com o Tejo nos olhos e um bom whisky na mão. Já bem aquecidos pela Aretha Franklin com gelo, entrámos por fim na velha mansão. No rés-do-chão, os mais aficionados pela electrónica abanavam o corpo ao sabor da música hipnótica que transbordava das mãos dos DJs. A malta mais do rock subia as escadarias, não sem antes beber mais um Cutty Sark.
De todas as coisas interessantes que aconteceram no primeiro andar, gostaria de destacar três bandas: O Quarto Fantasma, The Lazy Faithful e os Juba.
Os primeiros são uma das bandas de proa da nossa efervescente cena de rock instrumental. Uma coisa saltou-nos logo a atenção no trio de Lisboa: o tamanho das suas pedal boards, dezenas de botões que os dois guitarristas ligam e desligam a todo o momento, como se estivessem a manobrar uma complicada nave espacial. Quem conhecia já o brilhante álbum A Sombra, não conseguiu deixar de se espantar com a fidelidade absoluta com que este foi transposto para o palco. Para malta de inspiração pós-rock, que quase não tem ao seu dispor as muletas da palavra e da melodia de voz, não há caminho mais curto para a nossa comoção do que a obsessão quase patológica pelo detalhe.
Igual destaque para os The Lazy Faithful, garage rock apunkalhado com uma energia tremenda. É malta que vem do Porto, uma espécie de Hives alimentados a finos e francesinhas. Que sangue na guelra incrível estes tripeiros têm- rockalhada suja e crua, e tão rápida, que não nos dá tempo para respirar. E que baixo e bateria avassaladores! A sua imagem de marca é o roupão de banho branco que o frontman sempre veste. Decorem este nome: estes putos ainda vão dar que falar.
Também em grande forma estiveram os Juba, quarteto de indie rock de Lisboa. Têm toda a pinta de college rock americano dos anos 80: más t-shirts, óculos esquisitos, óptima música. A tocarem tão bem não sei como arranjam tempo para fazer as frequências na faculdade (um instituto de engenharia em Boston, certamente). A voz é muito dream pop (vem-nos à cabeça os Beach House): etérea, pouco central, mais uma textura entre texturas. As guitarras tanto fazem dedilhados à Johnny Marr, como os mais psicadélicos devaneios quase pós-rock, de travo oriental. Serão com toda a certeza os únicos portugueses que sabem quem são os DIIV e Mac Demarco.
Já de madrugada voltei para casa regalado. E a primeira coisa que fiz quando cheguei foi aderir ao Tradiio e apostar toda a minha fortuna virtual naquelas três grandes bandas. Que nos encontremos todos por lá e que as nossos músicos de eleição cheguem onde merecem chegar. Longe.
Fotos: Francisco Fidalgo