O segundo álbum dos The Kills foi o que lhes trouxe mais reconhecimento, não por terem tornado a sua sonoridade mais acessível, como acontece muitas vezes, mas sim por terem conseguido manter a originalidade do primeiro disco e a concepção de temas que ainda hoje são marcantes.
O primeiro álbum dos The Kills – Keep on Your Mean Side – saiu em 2003 e foi bem recebido pela crítica e pelo público, não só os mais virados para o indie rock como também os apreciadores de punk e blues e de alguma distorção. Foi, aliás, esta combinação de sonoridades, com algum country à mistura, que lhes valeu o reconhecimento, mais ainda por ser uma banda de apenas dois elementos: Jamie Hince na caixa de ritmos, guitarra e voz e Alisson Mosshart na voz e ocasional guitarra.
Claro que não foi uma explosão de sucesso porque o início dos anos 2000 foi auspicioso em termos musicais e os The Kills tiveram de dividir o sucesso com outras bandas iniciadas mais ou menos pela mesma altura como os Yeah Yeah Yeahs, The Rapture, Le Tigre, Interpol, Strokes, National e até com veteranos como Queens of the Stone Age, White Stripes ou PJ Harvey.
Além disso, na altura questionava-se se uma banda de apenas dois elementos e com uma sonoridade tão marcada se iria esgotar a si própria, mas o segundo álbum – No Wow, editado em 2005 – veio provar o contrário e até deu mais reconhecimento à banda. Não por ser melhor que o primeiro – pelo menos na opinião desta escriba que gosta dos dois (quase) de igual modo – mas porque foi capaz de dar continuidade ao primeiro registo, com a mesma originalidade e sem se dizer: “estas músicas são todas iguais”.
A sequência das canções é também relevante e nota-se uma certa ponderação. O sensual (ou quase sexual) “No Wow/Telephone Radio Germany” foi a melhor escolha para abrir o álbum, de tal forma que se tornou numa das canções mais marcantes do disco, mais até que os singles “Love is a Deserter” e “The Good Ones”. Aliás, ficou uma das mais emblemáticas da banda.
O disco continua com temas mais acelerados e, a meio, começa a acalmar e ao blues-punk-indie juntam-se então os laivos de country – mais evidentes na “Rodeo Town” -, para fechar com “Ticket Man”, quase uma canção de embalar.
No Wow foi ainda o álbum em que Alisson Mosshart ganhou mais destaque na voz, mas sem perder a química com Jamie Hince e que tão bem caracteriza a banda, principalmente em palco, onde os The Kills melhor mostram o seu trabalho.
Tem sido ao vivo que os temas da banda ganham maior dimensão porque, sejamos honestos, os The Kills ganharam mais reconhecimento com No Wow e depois disso fizeram mais cinco álbuns onde conseguiram manter a originalidade e dar-nos canções memoráveis como “No Wow/Telephone Radio Germany”. Mas não são, nem nunca serão, uma daquelas bandas que muda o mundo, só o mundo de alguns. Como o meu.