A banda do jornalista Miguel Ribeiro apresenta o quinto trabalho de longa duração com músicas leves e frescas, próprias do verão. Lá para fins de setembro estará em Lisboa e no Porto para concertos gratuitos, seguindo-se uma digressão nacional.
Há uma abordagem indie pop declarada às canções, como tem acontecido desde o início, neste quinto álbum do projeto The Happy Mess, intitulado Horas dias meses anos, que tem a particularidade de contar com Miguel Ribeiro, jornalista/pivot da SIC Notícias como voz e guitarra. A banda fica completa com Afonso Carvalho (guitarra), Hugo Azevedo (bateria), João Pascoal (baixo), Maria Luísa (voz) e Paulo Mouta Pereira (teclas).
Este é também o momento em que Miguel Ribeiro confessa um à-vontade pleno com a escrita em português, deixando de lado o inglês como idioma dominador, algo que já se iniciara no disco Jardim da Parada, a que este sucede. E como se libertou o jornalista para esta nova fase de escrita? Porque nesse disco teve oportunidade de trabalhar com nomes como Rui Reininho, Capicua, José Luís Peixoto, Filipa Leal, Rodrigo Guedes de Carvalho, Regina Guimarães, Bruno Vieira Amaral, Alexandre Soares ou Nuno Costa Santos.
O grupo tem estado em ação desde 2013, sempre com músicas despretensiosas, leves, açucaradas, mas a que pretende adicionar diferentes camadas, sem deixar de lado um tom bem-humorado em alguns dos vídeos que servem como ilustração, de que é um bom exemplo o sensual “Nadar de Costas”, integrado no já referido Jardim da Parada (2021). Antes editaram Dear Future (2018), Half Fiction e Songs from the Backyard (ambos de 2015). Foram passando por espaços como NOS Alive, Vodafone Paredes de Coura, Super Bock Super Rock, MEO Marés Vivas, Sol da Caparica ou Festival do Crato. E no ano passado chegaram mesmo a participar no Festival da Canção com o tema “O Impossível”.
Além do perfil pop da banda, e da clara simpatia pelos ambientes da Nouvelle Vague francesa, a ideia das colaborações também permanece, como aconteceu em diferentes passos até aqui e “Waltz for Lovers”, tema de há seis anos, o demonstra, tendo a participação de Rita Redshoes. Agora, cá estão a voz de Emmy Curl a vincar esta tendência em “Dança no Escuro”, mas também João Correia na bateria, João Barradas no acordeão e Rui Ribeiro nos arranjos de cordas para a canção referida.
Ao todo, 11 músicas para pouco mais de 42 minutos de leveza sem pretensões. O disco abre com “Tudo é Nada”, a lembrar Prefab Sprout, mas sem o virtuosismo sonoro da banda britânica que ganhou fama nos anos 80 nem o poder criativo do seu vocalista e letrista, Paddy McAloon. “Film Noir” é uma balada a jogar com palavras; “Manual de Sobrevivência” uma declaração romântica feita com toda a elegância; “Horas dias meses anos” dá nome ao trabalho discográfico e joga com tempos, ritmos e promessas do dia a dia; “És a Minha Humana” concede mais participação à voz de Maria Luísa e, no fraseado, remete para Manuela Azevedo dos Clã; “Mañana Nubladita” traz uma exceção internacional ao panorama linguístico do disco; “Dieta Mediterrânica” começa à maneira dos Wham e logo ganha outros caminhos; “Sol da Toscânia” é o retrato perfeito de bons momentos nessa bela região italiana, tendo imagens do filme “La Piscine”, de Jacques Deray e com Alain Delon e Romy Schneider como protagonistas; o já mencionado “Dançar no Escuro” é ilustrado em imagens por “Une Femme Mariée”, filme realizado por Jean-Luc Godard; “Furacão Domesticado” é uma curta e angustiante corrida do anti-herói indicado na canção; “Origami” fecha o álbum com sonoridades sonhadoras.
O disco, editado em diferentes fomatos (digital, CD e vinil), conta, conforme a banda assinalou à TSF, com a intervenção essencial da artista gráfica Tamara Alves para o universo geral do álbum, “fósforo que se vai extinguindo de encontro aos lábios”, como admitiu Miguel Ribeiro. No caso da edição limitada em vinil, está incluído o próprio desenho da artista, disponível na Loja do Bairro.
Talvez The Happy Mess não venham a ser marcantes para a História da moderna música ligeira em Portugal, mas também não revelam preocupações dessa envergadura. Têm surgido em bandas sonoras, incluindo novelas, e anúncios. E é certo que vão continuar a animar sobretudo as noites de adolescentes, convidando à dança e a quem se deixe embalar por letras quase sussurradas em diferentes ocasiões. Podem mesmo tornar-se sobretudo isso: um elegante segredo ao ouvido em ternas noites de verão.