Ao quinto disco e dez anos de carreira, os Happy Mess lançam o primeiro disco em português. E vale a pena ouvir.
Por vezes fica a ideia que escrever e cantar em inglês é uma forma de defesa, prevenindo de potenciais ataques à lírica e conteúdo. Seja esse ou não o motivo, depois de 10 anos os Happy Mess decidiram-se por cantar na língua de Camões e Miguel Ribeiro assume a voz principal, antes partilhada com Joana Sequeira Duarte, Sara Badalo e Joana Espadinha.
Com letras assinadas por nomes como Rodrigo Guedes de Carvalho, José Luís Peixoto, Bruno Vieira Amaral, Nuno Costa Santos, Sara Leal, Rui Reininho, Capicua, Filipa Leal e Regina Guimarães, além de letras da própria banda, a parte dos ataques à lírica fica muito bem defendida.
E na parte musical também ão compromete, como sempre nos Happy Mess, banda que normalmente não se arrisca em estéticas vanguardistas e se refugia nos baixos funky e guitarras em staccato. E por aqui tudo bem. Mais vale pisar seguramente um caminho conhecido que desbravar à toa, ou como quem diz, antes uns Happy Mess seguros do seu som, que ter uma banda a querer reinventar a roda. Faz lembrar por vezes o melhor de Tiago Bettencourt ou algumas coisas de Benjamim.
Como em todos os trabalhos, há canções menos interessantes, ainda que Jardim da Parada seja um álbum muito consistente ao longo de 11 músicas. “Capitão Roscofe”, com letra de Capicua, parece uma canção rejeitada que a autora rabiscou num guardanapo. Tem pouco sumo, ou como diz a letra “sem superpoder para impressionar”. No reverso desta medalha temos “Salto Mortal”, escrita por José Luís Peixoto, ou “Perder o Pé” de Bruno Vieira Amaral, que parecem ser feitas à medida de Happy Mess. Sente-se a banda confortável e são excelentes singles daqueles que se entranham no ouvido.
“Mudar de Canção”, escrita por Filipa Leal, é manifestamente uma boa letra e composição também, e outro ponto alto do disco, como “Espiral” de Rui Reininho com umas cordas e guitarras à la Nile Rodgers e um Reininho a cantar em francês “vive la dance”.
No geral fica a ideia que a pandemia não influenciou o resultado, já que Jardim da Parada foi pré-produzido à distancia, com os músicos a reunirem-se apenas para a gravação e arranjos. Na voz principal, Miguel Ribeiro mostra que não tem de ter uma voz feminina a acompanhar e vamos lá, já está na altura de esta banda ser considerada e deixar de ser “a banda do pivot da sic” para ser considerada uma banda por mérito próprio.