Com Death Song, os Black Angels completam o nome da música que serviu de grande inspiração a tudo isto, a mítica “The Black Angel’s Death Song”, dos Velvet Underground.
Os Black Angels tinham, até abril deste ano, um álbum excelente (o primeiro, Passover), dois álbuns muito bons (o segundo Directions to See a Ghost e o terceiro Phosphene Dream) e mais um disco assim-assim (o quarto Indigo Meadow), que parece ter sido feito à pressa e onde se desviaram dos anteriores, explorando o lado mais pop das sonoridades psicadélicas. Agora têm mais um álbum, o quinto de originais chamado Death Song, que no geral é quase tão bom como o segundo e o terceiro (os muitos bons), mas que tem temas que caberiam bem no primeiro álbum (o excelente).
“Currency”, que abre o álbum e que foi o single de apresentação, é um desses temas excelentes. Não é por acaso que foi o tema escolhido para abrir os concertos da atual digressão, a mesma que passou pelo Primavera Sound no Porto no início de Junho. Confesso que tentei descrevê-lo aqui, mas apaguei o que escrevi. Tem de se ouvir e, acima de tudo, sentir. Aliás, ouvir Black Angels é uma experiência sensorial. Quase como uma ‘trip’, mas sem as drogas.
A banda de Austin, no estado do Texas, nos EUA, é muita boa a criar sonoridades densas ou paredes sonoras que se constroem quase instrumento a instrumento, incluindo a voz. Para quem nunca ouviu falar, já cá andam desde 2004, lançaram o primeiro álbum em 2005 e, se é preciso dar um rótulo, dir-se-ia que é uma banda de rock psicadélico que mistura influências dos Led Zeppelin, Jesus and Mary Chain, Pink Floyd ou Velvet Underground. Aliás, o nome da banda, e agora o nome deste novo álbum, são precisamente inspirados num tema dos Velvet Underground: “Black Angels Death Song”.
Não terá sido por acaso a escolha do nome do álbum, mas não se sabe se há um significado para essa decisão, mais de 10 anos depois do primeiro. Pode ser o fechar de um ciclo ou um abrir de um novo, mas a verdade é que Death Song está mais polido e focado. É um disco trabalhado, instrumento a instrumento, som a som, com canções com um claro princípio, meio e fim.
Ou seja, ao contrário do anterior Indigo Meadow, há um regresso às sonoridades do começo e àquilo que é a essência dos Black Angels. Claro que há ainda uns temas menos inspirados onde tentaram, tal como em Indigo Meadow, juntar as várias vertentes do psicadelismo, mas ainda não encontraram a fórmula certa. Talvez no próximo, quem sabe.
O que importa é que esses poucos temas menos inspirados são totalmente abafados pelos outros como “Currency”, “I Dreamt”, “Comanche Moon” ou ainda “Half Believing”, “Medicine” ou “Death March”. O que importa é que Death Song é um álbum muito bom dos Black Angels. E não vale a pena tentar descrever muito mais. Tem de se ouvir e, acima de tudo, sentir.