Do ventre de cimento do lúgubre Cacém, nasceram os Asimov, e talvez venha daí o seu sadio desprezo pela beleza convencional.
Os Asimov escolheram o outro lado: a beleza que há no sujo, no rude e no sombrio; e este terceiro capítulo, Truth, é talvez o disco do duo que leva mais longe essa estética da negação.
Truth nega tudo e nega todos, sem piedade a nada nem a ninguém. Nega a própria passagem do tempo, refugiando-se no heavy rock dos anos 70: Hawkwind, Led Zepp, Sabbath. Nega o refrão e a melodia, preferindo a repetição obsessiva de um riff egoísta, cuja monotonia nos entorpece devagar como uma fuga de gás. Nega o psicadelismo colorido do summer of love: a sua transe é outra, um lugar escuro e perigoso, mais anestesia e esquecimento do que expansão da consciência.
E, porém, Truth afirma também tudo. Afirma as vísceras do rock: bruto, mal educado, furando pela multidão sem pedir “com licença”. Afirma a beleza das texturas granuladas da guitarra, esse fuzz espesso e impuro, borra de café a escorrer das colunas. Afirma o vício, a atracção indizível pelo abismo, o abandono.
Truth é gasolina e sombra, vinho de pacote e dor, cabedal negro e solidão.
Perca-se nele.