Querem evocar a candura do início dos anos 60? Nada melhor do que o veraneante Surfin’ U.S.A..
“Ah e tal, os Beach Boys do início são incipientes, só o vetusto Pet Sounds interessa.” Balelas! A primeira fase da banda é uma delícia, e o segundo álbum, Surfin’ in U.S.A., é o que mais transborda de Verão e vitalidade adolescente.
Nesta altura do campeonato, não havia ainda a dicotomia entre som em estúdio e som ao vivo, que seria a norma mais tarde: eram uma e a mesma banda, sem truques nem músicos de sessão, e essa espontaneidade rock’n’roll sente-se a cada instante.
Surfin’ U.S.A. é, acima de tudo, um disco de guitarradas. Cinco dos temas nem sequer têm qualquer voz, uma homenagem ao surf rock instrumental de Dick Dale e suas guitarras aquáticas. Até a rebentação de “Misirlou” é aqui revisitada, como quem adivinha que três décadas depois haveria o estrondo de Pulp Fiction.
Nos outros temas, os Beach Boys expandem o léxico da surf music com as suas doces harmonias vocais. Onde as guitarras trémulas e húmidas de reverb convocam as ondas do mar, as suas vozes entrelaçadas são macias como a areia da praia.

O disco abre com o hino “Surfin’ U.S.A.”, tão maravilhosamente soalheiro que lhe perdoamos o plágio descarado a “Sweet Little Sixteen”. O solo de guitarra é de uma economia encantadora, apenas meia dúzia de salpicos de mar refrescando-nos a cara. Foi esta canção que pôs o país inteiro a sonhar com pranchas de surf, mesmo que o mar mais próximo estivesse a milhares de quilómetros de distância. O surf da Califórnia não como coisa tangível mas como uma utopia de sol de plasticina.
“Lonely Sea” é a carta fora do baralho, uma balada melancólica linda de morrer, criminosamente excluída de todos os best of da banda. Quando o falsete dolente de Brian Wilson desemboca nas outras vozes, tudo conjugado numa harmonia perfeita, parece que morremos e que a nossa alma ascende aos céus. Um tema que aparece do nada, prenunciando o génio introspectivo de Pet Sounds.
Surfin’ U.S.A. extravasa a tórrida Califónia e conquista o país, subindo ao segundo lugar da tabela de vendas. A banda-sonora perfeita para a inocência e optimismo que pairava no ar, quando Kennedy ainda estava vivo, e a horda de bárbaros ingleses ainda não tinha tomado a América de assalto. Foi breve a estadia no jardim do Éden mas se fecharmos os olhos, e pusermos o disco a rodar, parece que nunca saímos de lá…