Ia escrever umas linhas sobre o tímido ressurgimento de uma das bandas que mais marcaram a minha vida, quando me lembrei que ainda não tinha contemplado os Suede com qualquer capítulo desta saga. Portanto cá vai.
Conheci os Suede a meio dos anos 90, quando vieram cá a uma das primeiras edições do Sudoeste, num ano em que também os Blur passaram pela Zambujeira. Traziam para apresentar o seu disco mais recente, o fantástico Coming Up, que acabou por ser a minha porta de entrada para este grupo.
Eu fui daqueles que gostei profundamente da britpop. Blur, Suede e Pulp são das minhas bandas preferidas de todos os tempos, e os dois primeiros discos dos Oasis são, de facto, muito, muito bons. Mas se os Blur ficaram enormes, com toda a justiça, os Suede foram quase sempre uma injusta segunda linha, ao passo que os Pulp se mantêm, até hoje, como o segredo mais bem guardado da música britânica.
Contava que conheci os Suede através do Coming Up. É um grande disco, que faz a síntese perfeita entre o rock indie/glam dos dois discos anteriores com a faceta mais pop que marcou os seus últimos trabalhos. É um disco que me marcou muito, mas não é este o protagonista deste post.
Essa honra cabe a Sci-Fi Lullabies, cd duplo de lados B, editado depois de Coming Up. Para os fãs mais sérios de Suede, os melhores momentos da banda foram os dois primeiros discos, alimentados pela dupla genial Bret Anderson/Bernard Butler, respectivamente vocalista e guitarrista, mais um capítulo da bela tradição de duplas compositoras britânicas: Lennon/McCartney ou Morrissey/Marr, por exemplo.
Sci-Fi é uma colectânea de lados B de singles dos Suede desde os primeiros tempos. A beleza desta banda é que, mesmo em lados B, os Suede nada tinham de experimental. Nunca conseguiram fazer uma música que não fosse profundamente pop. Por isso, para um fã à espera de mais discos, descobrir um duplo cd com 27 músicas que eu nunca tinha ouvido, foi uma coisa extraordinária. E está lá tudo. As baladas algo melosas, o rock glam, a heroína, o aborrecimento britânico. Tendo em atenção que reúne músicas avulsas feitas ao longo de vários anos, o alinhamento é variado, não conceptual, e nunca farta. Este disco acompanhou-me durante muitos anos, e ainda hoje é o disco de Suede que, de vez em quando, mais meto a tocar.
Vi-os duas vezes ao vivo. A primeira, numa queima das fitas em Coimbra, num dia em que fiquei sem bateria no carro à saída do concerto, e era suposto trazer toda a gente de volta a Lisboa nessa mesma noite. E anos mais tarde, na Aula Magna, num grande concerto.
Os Suede sempre foram uma banda de que não era cool gostar. Havia algo de gay na sua atitude, e durante muitos anos isso foi duro para um sério fã de rock n roll como eu. Mas as músicas, as melodias, são uma das coisas mais extraordinárias do fim do século XX.
Acabado de ser editado este ano, Bloodsports é um disco bem bom na tradição dos Suede. Os seus discos anteriores já davam mostras de alguma exaustão criativa, embora continuassem a ser bons discos, mas não ao mesmo nível. Este último, que estupidamente não existia à venda em qualquer Fnac deste país (!), devolve-me a esperança e o prazer em ouvir Suede. Eu cá, nestas coisas, gosto sempre que as minhas bandas preferidas se voltem a juntar, mesmo que façam merda. Troco esse risco por um disco novo, sem problemas…
Deixo-vos com o disco completo para vosso deleite e um vídeo raro dos Suede a tocarem estes mesmos b-sides. A qualidade não é a melhor mas é um documento único.