Confesso que não fazia ideia alguma sobre quem era John Grant, quando em 2010 o ex-Czar deu à luz Queen of Denmark. Fiquei rendido, quase perturbado pela beleza angulosamente poética e particular da visão do seu mundo musical. A canção “Where The Dreams Go To Die”, por exemplo, ainda hoje me aproxima das lágrimas, se ouvida no momento certo. Que prazer, meu Deus! Depois, três anos mais tarde, John Grant volta a aparecer em grande forma, embora num registo algo diferente, com Pale Green Ghosts, um disco que me fez companhia durante algumas largas semanas, até o abandonar repentinamente, uma vez que me estava a fazer mal: não sou dado a vícios, e a perceção de que poderia estar a tornar-me dependente de canções como “GMF”, “It Doesn’t Matter To Him”, “Why Don’t You Love Me Anymore” ou “You Don’t Have To” fez-me distanciar do disco. E eu, gostando disso, não gosto disso (peço desculpa pela frase carregada de tiques pessoanos, mas saiu-me assim e não me apetece mudar), se é que me entendem…
Pale Green Ghosts volta a surpreender -me quando agora, mais de mês e meio sem querer saber dele, regressa em grande triunfo. Ouço-o uma vez, outra e outra ainda antes de escrever estas linhas. É um belo monumento! Rendo-me ao seu peculiar encanto uma vez mais e para sempre, não tenho dúvidas. As letras mostram-se perversas e sem rodeios, sexualizadas, diretas ao ponto de poderem inibir que as cantemos em voz alta, por exemplo. Mas como deixar de cantarolar (em casa, na rua, em todos os lados) versos como “But I am the greatest motherfucker / That you’re ever gonna meet”, por exemplo? Mas voltemos aos ghosts que povoam o segundo trabalho de John Grant, e celebremos o prazer irrequieto da mistura rítmica das suas canções! Celebremos também a voz de Grant, sempre tão marcante e poderosa, a parecer que não se quer impor, mas impondo-se impiedosamente. Celebremos, por fim, alguns sonoros desvarios feitos por sintetizadores que ganham vida subitamente, em algumas canções. Na verdade, quando bem ouvido, Pale Green Ghosts é mesmo um disco viciante, e nada mais há a fazer. Os próximos dias vão ser de ressaca, já sei.
É mais um que desconheço,ou melhor,desconhecia.