Será desta? Faz agora 10 anos que os Strokes editaram o seu último grande álbum (First Impressions of Earth) e desde então, aguardamos avidamente por um sucessor à altura. Angles, de 2011, não quis assumir esse papel; Comedown Machine, de 2013, parecia mas afinal não. Nada como o tempo para deixar assentar a poeira, mesmo para quem (eu próprio) na altura escreveu que esse seria o disco que traria os velhos Strokes de volta.
A verdade é que o mundo precisa dos Strokes – que foram a melhor banda do Mundo na primeira década do século XXI – e precisa deles em forma, inspirados e prontos para voltar a apontar o caminho. Já foi há 15 anos que deram cabo disto tudo, com Is This It, e quem faz um disco desses não pode acabar numa qualquer sarjeta do esquecimento – que tem sido onde muita gente os tem vindo a colocar. Com o potencial destes cinco músicos fantásticos, claro que a nossa exigência aumenta, mas aumenta também a esperança, de que voltem a inovar e a fazer algo de completamente relevante nos dias que correm.
O novo EP, Future, Present, Past, não é o D. Sebastião que aguardamos há uma década, mas pode estar perto. Claro que agora, depois de sucessivas ameaças, recebemos as notícias com maior renitência, mas a verdade é que nos últimos tempos, os Strokes parecem estar de volta à grande forma. Sim, já tinha dito isto em 2013, mas tenho por esta banda um amor incondicional e quero sempre ver o lado bom, mesmo quando é difícil. Posto isto, e tendo em conta os relatos recentes – no concerto da semana passada no Governors Ball, fizeram um encore, que já não faziam há vários anos; Julian Casablancas estava bem disposto em palco, o que não acontecia há mais anos; tocaram temas que raramente tocam ao vivo e deram um grande concerto – abre-se uma nova janela de esperança.
O novo EP, lançado no dia desse concerto em Nova Iorque, dá-nos só três músicas novas e uma remistura, mas já cheira bem. Abre com “Drag Queen”, que começa por fazer lembrar Joy Division, não só no baixo e no ambiente sombrio, mas também o cantar de Casablancas se assemelha, por vezes, a Ian Curtis. Mas os Strokes não gostam de estar muito tempo no lado escuro e variam várias vezes – como em quase todas as músicas da carreira – passando por solos de guitarra de Nick Valensi, o mais discreto mas mais sensual guitarrista dos nossos tempos.
“OBLIVIUS” é a canção deste EP que precisa de mais escutas. À primeira, soa estranha, a meio tem uma espécie de solo que parece uma tentativa bacoca de recuperar a aura Strokes de início do século mas que agora não encaixa bem, e quando chegamos ao fim da canção ficamos com uma sensação de incompletude. Mas damos outra chance, ouvimos a canção mais uma e outra e ainda outra vez e, aí sim, já se tornou um hino de 2016. O princípio da música pode continuar a deixar algo a desejar mas do meio para o fim, o solo de guitarra à sirene, o cântico quase índio devolvem-nos a esperança no mundo.
A última das originais, “Threat of Joy”, parece saída directamente da fase Room on Fire (2003) e é talvez a canção mais típica de Strokes, a voz assenta numa cama de guitarra serpenteante, como nos habituámos nos primeiros dois discos da banda.
A última música do EP é uma remistura de “OBLIVIUS”, feita pelo baterista Fabrizio Moretti, que pouco muda ao original, acrescenta apenas uns toques mais tropicais.
Future, Present, Past é um belo refresco de Verão que nos devolve alguma esperança num regresso dos Strokes à grandiosidade de que são capazes, assim se esforcem.