IV é, naturalmente, o quarto álbum desta banda canadiana, e o primeiro desde Wilderness Heart, de 2010. O título é classicista, piscando o olho a colossos como Vol. 4 dos Black Sabbath ou o homónimo IV, dos Led Zeppelin.
A referência não é inocente, porque ambas as bandas (sobretudo a primeira) são com certeza pólos de inspiração para uma banda que faz do stoner-rock-psicadélico a sua praia. A grande vantagem dos Black Mountain é que, aqui e não é a primeira vez na carreira, o conseguem fazer sem soar a um pastiche de outras bandas. À semelhança de Wildest Dreams, um dos enormes discos de 2014, o caminho é o rock como rocha fundadora, o alicerce sonoro sobre o qual a exploração assenta, como numa tela acolhedora para o traço rico do pintor.
IV é uma viagem, do princípio do fim. Bastaria “Space to Bakersfield”, que com os seus mais de nove minutos encerra o disco, para que IV fosse um disco a merecer ser levado a sério. Esse tema espacial, exploratório, deambulante e puramente sónico, é a prova do que os Black Mountain podem fazer, uma banda de agora que podia ser de qualquer altura desde que os Pink Floyd descobriram o espaço como inspiração. Com uma pitada do que os Fleetwood Mac poderiam ter sido, se quisessem ser rock em vez daquele soft-rock balofo.
A banda surge aqui mais solta, ainda que nunca particularmente comercial. Temos muito de drone-rock, amaciado pela belíssima dupla vocal harmoniosa de Stephen McBean e Amber Webber. Sobretudo esta última, cuja voz frágil paira, muitas vezes espectral, por sobre os temas.
A novidade, neste disco, é um assumir do namoro com os sintetizadores (calma!). Várias músicas são acentuadas pelo instrumento, quando não assentam neste tanto como na guitarra. Junta-se a isto o facto de os sintetizadores usados serem vintage ou pelo menos soarem a tal, dando aos temas uma aura ingénua que ameaça roçar o foleiro, sem nunca cometerem o pecado de o ser. Ou como a escola de Richard Wright, dos Pink Floyd, pôde afinal ser frutuosa. E com a vantagem de a textura assumida ganhar aquela deliciosa aura de space-rock que lhes cai tão bem.
Começámos por referir que IV é uma viagem, e como tal deve ser vivida. Destacamos, ainda assim, o já mencionado e portentoso “Space to Bakersfield”, a abertura exploratória com “Mothers of the Sun”, os ecos de The Wall em “You Can Dream” ou a mais pop “Constellations”.
Um dos melhores discos de rock clássico do ano, sem dúvida, trazendo-nos o cheiro dos anos 70 aos dias de hoje. E, até agora, um dos discos do ano.