Irrequieto por natureza e casado com a sua profissão, Dave Grohl é daqueles músicos que quase nunca tira férias e está sempre numa onda hiperativa de criatividade. Não basta as tournées de estádio com os Foo Fighters, os projetos paralelos com os Queens of the Stone Age ou os Them Crooked Vultures, o ex-Nirvana ainda arranja tempo para dirigir um filme.
Uma película que na realidade é um documentário onde ele e a maioria dos músicos que constituem os Foo Fighters fazem de banda de suporte a uma série de convidados de luxo que durante algum ou outro ponto marcante da sua carreira utilizaram os lendários estúdios de Los Angeles.
O filme/documentário ainda está por estrear nas salas portuguesas, mas o mais interessante desta empreitada é que Grohl e seus amigos construíram uma banda sonora totalmente original, compondo canções novas para cada um dos capítulos do filme.
Assim temos Real to Reel, um disco que brilha mais pelos convidados de luxo do que propriamente pela força das canções. Não há aqui nada de novo ou fascinante a apontar musicalmente além do mero exercício narcisista de Grohl em afirmar-se com uma espécie de Ben Affleck do mundo musical.
Aquele típico rock musculado norte-americano, talhado para ser tocado nas estações FM, está aqui bem patente. Mesmo que no rol da guest-list esteja uma senhora de idade como Stevie Nicks e cuja participação em “You Can’t Fix This” não chega para aquecer as turbinas deste avião musical à deriva de ideias.
Mas pior sãs as contribuições descabidas de Rick Springfield em “The Man That Never Was” ou a charopada de “From Can to Can’t” que inclui Corey Taylor dos Slipknot (aqui em versão não-mascarada) e Rick Nielsen dos Cheap Trick.
Valha-nos as contribuições de Josh Homme para tirar esta aventura musical cinematográfica da apatia. A acústica “Centipede” e “A Trick with No Sleeve” são dos poucos momentos em que a monotonia é quebrada.
E eis que chegamos ao momento que deu ao projeto todo o hype necessário para ele ser digno de ser mencionado nos anais da história. Em “Cut Me Some Slack” temos Paul McCartney a liderar os ex-membros dos Nirvana numa canção que tem o seu “quê” de “Helter Skelter”.
Infelizmente não chega para salvar a honra do convento no meio de canções que mais parecem lados B dos Foo Fighters “Your Wife is Calling” ou”Mantra” composta a meias com Trent Reznor dos NIN.
Para a história, Real to Reel valerá muito mais pelas palavras, estórias e imagens dos seus protagonistas que propriamente pela banda-sonora. Quanto ao seu mentor Dave Grohl, umas férias para refrescar a cabeça e limpar as ideias só lhe faria bem.