No final dos anos setenta ninguém se importava de morar em Nova Iorque, a América vivia tempos apáticos, de ressaca dos anos sessenta, e foi então que um movimento artístico, avant-garde, enclausurado na insanidade individual, subitamente habitou o bairro de Lower East Side e ficou conhecido como NO WAVE (por oposição à popular New Wave). Do nada, proliferaram bandas interessadas no extremo, na anarquia, na experimentação ruidosa, conferindo a Nova Iorque uma paisagem apocalíptica, avassaladora. O No Wave explorou a anarquia e amadorismo do punk-rock britânico, mas abordou-o dum ponto de vista demencial transformando-o num jogo cubista interior, rejeitando todas as fórmulas rítmicas do rock and roll, uma amalgamação de free jazz, auto-destruição, caos paródico, ruído e silêncio, a nota errada na altura certa, a dissonância (rítmica?) enquanto técnica, a ausência da técnica.
Apesar de nenhum dos artistas do No Wave alguma vez ter tido sucesso junto de públicos mais amplos (o extenso fecundo trabalho de Lydia Lunch, que pudemos ouvir recentemente na Galeria ZDB e as deambulações do brasileiro Arto Lindsay serão ténues excepções), as suas influências repercutiram-se em vários artistas como os The Residents, The Birthday Party e os Sonic Youth, que transportaram o No Wave pelos anos oitenta adentro e ainda hoje conseguimos sentir a reverberação do movimento novaiorquino nas dissonâncias abrasivas de vários artistas.
Os SONIC YOUTH, juntos desde 1981, emergiram deste palco americano, conseguindo fundir a cacofonia distorcida com as meditativas explorações sonoras do compositor Glenn Branca, adicionando uma estrutura melódica ao som, e tornaram-se numa das bandas mais influentes e inovadoras do seu tempo.
Depois de vinte e três anos de criatividade sónica, de experimentação e inconformismo, lançam em 2004 o décimo-nono álbum, Sonic Nurse. Supondo que não conseguirei dizer nada que lhe seja justo, arrisco dizer que se trata de um trabalho de certo modo amadurecido em relação aos anteriores, o culminar de uma antiga busca da melodia, reinventando-a, ditando-a. Brilhante.
Caríssimo insubstituível Vasco, não é da minha pretensão ser capaz de exprimir palavras relativas ao que sinto perante um album como este. Poderia dizer que é fantástico, que usa guitarras assim e assado, mas parece-me pouco significante perante tal inefável beleza. Daí ter optado por contextualizar a banda, por vários desconhecida/mal-compreendida e, em vez de regurgitar frases ocas e repetidas de outros tantos textos de crítica musical, em vez de a classificar (não serei presunçoso ao ponto de classificar um album de sonic youth ou até de outro qualquer), sugerir ao leitor que a ouça pelos próprios ouvidos.
Apesar do blog não ser necessariamente de crítica musical(quem aqui tem a presunção de o fazer definitivamente? tu? se sim, a que propósito?) mas sim de partilha, divulgação, opinão, agradeço-te imenso por teres tentado analisar o texto e por apontares os seus pecados, é de extrema utilidade.
Este artigo peca por uma coisa:
Centra-se no contexto histórico de umas das melhores bandas de sempre mas não fala do álbum em si.
É um álbum rock, talvez o mais rokeiro da banda e um dos melhores do ano passado.
Gostei raul.
Um pequeno conselho: cuidado com a “overdose” de adjectivos levados, por vezes, ao excesso…
boa raul