Damos graças por este álbum. Esteve para sair no Verão passado, depois esteve para não sair porque Sharon Jones teve um cancro. Com a edição este disco, chega também a boa nova da recuperação da cantora, que já está pronta para voltar à acção!
E então, ela dá-nos o que queremos – mais um grande disco.
Give the People What They Want é uma colecção de 10 canções, soul intemporal e intensa, rasgada pela voz poderosa desta mulher, a encarnação feminina de James Brown. Veja-se um concerto dela ao vivo e tente desmentir-se esta afirmação.
Antiga guarda prisional, Sharon Jones é uma mulher de pura fibra, rija, que não hesitará em dar-nos uma coça: “play with me and you’ll play with fire (…) I’ll burn you up if it’s my desire (…) takin’ you apart is my kind of fun, count to three and you better run” – escuta-se em “Retreat”, brilhante primeiro single e logo o tema de abertura deste disco.
Fica feito o aviso – com esta tipa não nos metemos – e com jeitinho pode ser que nos demos bem. À terceira música já ela reconhece que “We Get Along”. Mas não estamos a falar de uma mulher frágil que facilmente sofre de amores e canta sobre isso. É ela que estabelece as regras, é ela quem quebra corações – “You’ll Be Lonely” (after I’m gone).
Ela já foi frágil, já levou porrada da vida, mas fez-se forte e fez-se esperta: “Now I See” (“what you want with me, you wanna take all away from me, once a friend now an enemy”).
Toda esta fibra e substância que ela carrega, sente-se na voz – tem um vozeirão à antiga, canta determinada e move-se com classe. Claro que também tem os seus momentos de vacilo, em que lamenta: (“we can’t keep”) “Making up and Breaking Up” (“over and over again”).
Para acompanhar as histórias de amor e sobrevivência que tem para contar, Sharon Jones tem sempre os seus Dap Kings, exímios executantes que, no século XXI, soam como se não tivessem um tempo. São pura soul, puro funk, puro groove. São de hoje como são de quando a Stax e a Motown estavam no auge.
Give the People What They Want é mais um excelente álbum, de uma cantora excelente, dura como aço, que não se deixa vergar facilmente, seja por um amante sacana seja por uma puta duma doença!