Um disco contemplativo de piano que pode bem ser a coisa mais bonita que vamos ouvir este ano.
Sergio Díaz de Rojas é um músico peruano que vive em Espanha, e do qual quase ninguém ouviu falar. Vem de uma família de músicos, entre os quais o seu avô, Otto, e a sua tia-avó, Elsa, figuras que sempre o influenciaram e estimularam. Falamos disto porque este álbum, Muerte en una tarde de verano, é habitado por estas histórias de família, por estes fantasmas, por todas aquelas coisas, grandes e pequenas, que nos fazem o que nós somos. E que duram um segundo, mesmo que a memória as guarde.
Sergio Díaz de Rojas, na saída da pandemia, deu por si a pensar cada vez mais no seu avô, que se suicidou quando o jovem era adolescente, ainda a viver no Peru. Compôs, assim, um exercício acerca de perda e da morte, esse mistério que desde sempre ilude a compreensão total da humanidade. Muerte en una tarde de verano é um disco conceptual, um exercício em que de Rojas nos conduz pela sua própria vida no dia em que lhe calhou morrer. É por isso que começamos por “Amanecer (Prefacio)” e terminamos, ao anoitecer, à beira do mar e do fim, em “Atardecer a orillas del mar”.
Segundo o próprio músico diz, na sua página, o exercício não é mórbido nem derrotista. Esse último dia, de coisas simples como comer um gelado ou brincar com o gato, é acerca de fazer as pazes com o fim, e o que para nós é importante se soubermos quando ele aí vem. E, se o álbum é lento e por vezes triste, está longe de ser depressivo.
Aquilo que nos conquista é a sua extraordinária beleza e intimidade. Aqui não temos trinta mil elementos ao mesmo tempo, cordas sumptuosas ou truques mais ou menos comuns na música contemporânea de inspiração “clássica”. O protagonismo é, todo ele, do piano de Sergio, e podemos ouvir os dedos no instrumento, como se, rodeados por silêncio, estivéssemos ao seu lado, enquanto toca. O universo é semelhante ao do alemão Nils Frahm, belo, elegante e austero.
A excepção, no meio destes 40 minutos de música instrumental, é “Holding her is where I learned forgiveness”, mais próximo de um registo canção, com a voz do cantor norte-americano Lo-Fang, que também toca violoncelo no disco, num momento emocionante. Ainda assim, flui de forma absolutamente harmoniosa com tudo o resto.
Muerte en una tarde de verano é também um “álbum visual”, uma vez que todos os seus temas foram alvo de mini-filmes, acompanhando o dia (pode ser visto no link youtube abaixo, e merece a pena).
Este é um disco para mentes que precisam de espaço e de respiração, neste mundo acelerado e atribulado. Uma dose de beleza que tanta falta nos faz.