Rita Vian é uma das mais promissoras artistas nacionais. O EP Caos’a é uma lufada de ar fresco na música que se faz em Portugal.
A carreira da Rita Vian não é longa, Caos’a é o primeiro EP da cantora. Os singles “Diágonas” e a “Sereia” colocaram-na na cena musical, mas foi a canção “Purga” de 2020 a rampa de lançamento da Rita para a imprensa e o para público em geral. “Purga” foi considerada uma das melhores canções nacionais pela TIDAL, pela Radar e pelo Observador, e eu concordo.
A voz da Rita está carregada de alma, por isso nos faz lembrar o fado, com uma abordagem moderna e inovadora, característica do século XXI, e uma melancolia intensificada pela batida da música. Esta sonoridade transporta-me imediatamente para a música que se fazia nos anos 90 no Reino Unido, o trip-hop, pois a música da Rita também é uma fusão entre hip-hop e eletrónica. Não sendo propriamente uma comparação, esta junção entre uma voz dramática e uma música que pisca o olho ao trip-hop remete-me para os Portishead. Se a banda tivesse nascido em Lisboa nos anos ‘20, provavelmente seria esta a música que fariam.
Com a produção de Branko, Caos’a reforça aquilo que já sabíamos sobre a Rita, é de facto uma das mais promissoras cantoras nacionais. Quando descobri o EP lançado em Julho, e foi uma descoberta tardia quase no final do ano, a canção “Plana” deve ter tocado umas 20 vezes seguidas. Para além desta minha canção favorita, e provavelmente uma das melhores de 2021, fazem parte mais 4 canções. Todas as canções estão envoltas na mesma aura taciturna, com letras que mais parecem poemas, interpretadas com uma imensa intensidade mas ao mesmo tempo de uma forma quase displicente que em nada as compromete.
Diz-se que a Rita Vian faz parte do movimento dos “Novos Fados”. Acredito que ainda é cedo para conseguimos colocar a sua música dentro de alguma “etiqueta”, mas a verdade é que Caos’a é um disco que vale a pena ouvir, e apenas peca por ser EP e não LP.