Ookii Gekkou é um título estranho, como estranho (mas aliciante) é o que no disco se escuta. Ao terceiro álbum, os Vanishing Twin voltam a não desiludir. É, acreditem, uma pequena e inquietante maravilha sonora.
O disco saiu no passado ano e por cá, neste país tão dado a ouvir o que mereceria ser votado a uma surdez generalizada, ninguém deu por ele. Mas como não há regra sem exceção, e como não poderia deixar de ser, este site de resistência (qual aldeia gaulesa) tomou nota dele, entrando inclusivamente no TOP de um dos nossos assíduos escribas, como se poderá ver no Anuário Altamont 2021 que muito brevemente poderá ter em mãos. E olhe que valerá bem a pena tê-lo para poder ler o que de melhor se escreve em Portugal sobre o que mais amamos, a música! No entanto, e por agora, uma vez que as delícias que se ouvem no terceiro longa duração da banda londrina continuam a ecoar neste ano de 2022, faz-se a escrita do som de Ookii Gekkou, até porque o que é mesmo muito bom não tem, nem terá nunca, data de caducidade. Este é dos que durará, seguramente. Assim sendo, avancemos.
Ao início, e desde os primeiros segundos, o deslumbramento hipnótico do som, da voz, dos pequenos detalhes que pairam por todo o lado daquilo que se escuta. E como quando se ouve um disco, nunca se ouve apenas um disco, surgem-nos referências, muitas e boas, capazes de fazer com que atiremos algumas palavras para cima do texto: Pram, desde logo, mas também (evidentemente) Stereolab ou ainda Death and Vanilla, apenas para não nos arrastarmos por outros artistas e bandas. Como se perceberá facilmente, bastando para isso que o escutemos com alguma atenção, Ookii Gekkou é um disco noturno, um trabalho com uma luz muito própria e particular (a expressão-título quer dizer grande luar, em japonês), repleto de curiosidades sonoras, todas elas muito bem encenadas, nos locais certos, entre ritmos e melodias que se insinuam num intenso jogo de sedução, de mistério, como se escondendo – ou velando – um pouco daquilo que aos poucos vai destapando: um banquete sensual que mistura finos ingredientes jazzísticos com eletrónica, experimentalismo arty com pop alternativa com sotaque avant-garde de extremo bom gosto.
O disco é composto por nove temas que duram muito pouco mais de quarenta e um sinuosos minutos. Muitos deles são canções, ou quase todos, aliás. Canções pouco cantarolantes, é um facto, mas canções, mesmo assim. No entanto, e depois das maravilhosas “Big Moolight (Ookii Gekkou)” e “Phase One Million”, as terceira, quarta e quinta faixas oferecem um inquietante twist ao álbum (referimo-nos a “Zuum”, “The Organism” e a “In Cucina”), mas é exatamente nelas que parece residir a essência de todo o trabalho dos Vanishing Point. Pensemos em space jazz de mãos e ouvidos dados com um pouco de kosmische musik e, mesmo assim, talvez estejamos ainda algo distantes do som que verdadeiramente se ouve aqui. Só ouvindo se poderá perceber que estamos perante um incrível e singular álbum que parece chegado de um qualquer universo paralelo ainda não identificado, mas onde se deve estar muito bem. Estilo e groove não faltam, assim como alguma boa intelectualidade sonora retro-futurista (usamos esta combinação de termos na esperança de que façam sentido nas vossas cabeças, uma vez que nas nossas fazem, e muito), acrescida de requintada pose jam segura e controlada.
Ookii Gekkou é um belíssimo disco. Conquista-nos pelo seu desassossegado conteúdo, assim como também pela arte gráfica com que se apresenta. A capa é irresistível, de tão simples e maravilhosa. É, no entanto, algo enganadora (um propositado paradoxo, talvez?), uma vez que insinua um ambiente de certa estridência de cor, o que acabará por não se realizar desse modo, contrastando com alguma da soturnidade do conteúdo sonoro. No entanto, uma coisa é certa: há luzes que se acendem na alma sempre que soltamos a magia desta grande claridade lunar!