Lisboa tinha saudades de sol e música. E Night + Day, o evento planeado e executado pelos The xx, que levou dez mil pessoas ao Jardim da Torre de Belém no passado Domingo, recebeu esta dupla energia. Festivaleiros (portugueses e estrangeiros) com os primeiros dias de praia no corpo e na disposição e com muita vontade de ver concertos ao ar livre e ao calor, que os festivais de Verão já vão longe.
Enquanto o público que ia chegando se estendia na relva à sombra ou bebia a primeira cerveja Xinobi ia criando ambiente com um dj set tranquilo, no Coreto DJ Stand. Voltaria logo a seguir ao primeiro concerto no palco Night – Day, estreado pelos portugueses PAUS, que aqueceram quem se aproximou do palco principal com um espectáculo curto mas intenso. Foram muitos os que chegaram a horas de ver o grupo português e a poderosa bateria siamesa matraqueada por Joaquim Albergaria e Hélio Morais não desiludiu. O público que já por ali andava recebeu os PAUS em euforia, terminando com um apoteótico “Mudo e Surdo”.
Seguiram-se os Mount Kimbie, num registo electrónico experimentalista que parecia ter bastantes seguidores: a relva em frente ao palco principal começava a encher, com muita gente a chegar já perto do final do dia. Contudo, só alguns seguiam com atenção o duo britânico, que revisitou temas do primeiro trabalho, viajando entre momentos mais calmos e outros de explosão de ritmos que apelavam à dança.
A maior parte do público entretinha-se a conversar e a aproveitar os últimos raios de sol. Este registo foi o mais visto no festival. Só quando os The XX chegaram é que o recinto se concentrou no que se passava no palco. No resto do tempo as pessoas aproveitaram o sol, conversaram, sem prestar grande atenção aos concertos (excepto a concentração de público fiel em frente ao palco) ou desesperaram para conseguir comprar uma cerveja, comer ou até ir à casa de banho. Ponto negativo para esta organização: restauração e casas de banho insuficientes e tempos de espera desesperantes para fazer seja o que for. A ausência de multibanco no recinto e a fraca iluminação nas zonas de passagem são outros pontos negativos.
A pausa entre Mount Kimbie e John Talabot fez-se no palco Night + Day fez-se com a DJ Kim Ann Foxman, que levou muitos a dançar. De ar andrógino e acompanhada por Kalaf como MC, foi ao baú e surpreendeu com “Pump Up the Jam” dos Technotronic. Houve música dançável com toques de chillout, tendo alguns verdadeiros seguidores e outros que por ali ficaram por curiosidade, criando uma plateia composta. Voltaria mais tarde, para aquecer para James Murphy, criador dos LCD Soundsystem, em DJ set (que a reportagem do Altamont já não viu).
A surpresa maior veio com John Talabot, acompanhado de Pional, que iria para o coreto depois de Chromatics. Ritmos dançáveis de registo electrónico acessível levou o público ao rubro quando Romy e Oliver, as vozes dos The XX, chegaram ao palco para cantar “Chained”, remisturado por Talabot. No coreto, o terceiro elemento da banda anfitriã, Jamie XX, preparava-se para o seu DJ set, o mais procurado de todos os que passaram pelo segundo palco do evento. Visitando o house e a disco procurou preparar o público para o momento alto da noite com uma versão remixada de “Missing”, do segundo álbum dos The xx.
Os Chromatics deram o tudo por tudo mas o esforço acabou por ser pouco reconhecido, apesar dos resistentes que se mantinham em frente ao palco. A maior parte dos festivaleiros, à semelhança do Altamont, desesperava nas filas para jantar, antes que The xx começasse, e ouviu o concerto de longe. Destaque, contudo, para os ritmos dançáveis que foram intensificando com o progredir do concerto e a excelente versão de “Running up that hill”, original de Kate Bush. Ao longe, também, Pional apresentou um ‘set’ cheio de Groove e remisturou, como não podia deixar de ser, The xx.
Quando pisaram o palco os The xx foram os verdadeiros cabeças-de-cartaz da noite, recebidos pelo público de braços no ar e entre gritos e assobios. O palco simples, com um jogo de luzes que causava um efeito etéreo que combinou na perfeição com o som característico da banda. Arrancando com “Try”, os The xx foram desfiando temas do primeiro e do segundo álbum, despachando logo no início “Crystalized”, o tema que os tornou conhecidos, num ritmo diferente do CD, mais dançável e alegre.
Impressionante, sobretudo, foi ver a evolução do trio. Quando tocaram pela primeira vez em Portugal, numa Aula Magna apinhada, os The xx eram inexperientes e arriscaram pouco, tocando basicamente o CD. Desta vez, o trio inovou, com as remisturas de Jamie XX, que ia embelezando as músicas enquanto estas decorriam, tornando-as mais densas e dançáveis. Do CD só as duas vozes, o sussurro de Romy e o tom grave de Oliver. E apesar do concerto ter sido curto a banda não deixou de tocar alguns dos principais temas como “VCR”, “Islands”, “Night Time” ou “Reunion” e “Fiction”, do novo álbum.
A versão tocada de “Chained” foi novamente a de Talabot e, pelo meio, os The xx iam agradecendo a presença do público e falando da concretização deste sonho. “Demorou um ano a preparar, como se fosse um casamento”, dizia Oliver. Ainda houve tempo para um curto encore, com “Intro”, do primeiro álbum e “Angels” a fechar, como se fosse uma declaração de amor ao público que ali se encontrava.
E assim que os The xx terminaram o concerto, foi a debandada geral, o que aumentou ainda mais a sensação de que todos estavam ali para ver aquela banda em específico, apesar de bom ambiente que se tinha criado durante o dia. Foram poucos os que ficaram para os dois DJ que se seguiram: uma repetição de Kim Ann Foxman e o aguardado James Murphy, que a reportagem do Altamont já não viu.
(fotos por Mafalda Piteira de Barros)