Dois anos de existência um disco, um Brit Award e dois prémios do NME. Um baixo, uma bateria e a dose certa de atitude. “Não precisamos de mais ninguém na banda”, dizia, sem sinal de modéstia, Mike Kerr quando recentemente a Mojo lhe perguntou pela vida. Ao Coliseu os Royal Blood chegaram com o público conquistado. E no final de pouco mais de uma hora mais fãs tinham ganho. Não só a frase de Kerr se revelou acertada como a dupla deixava esperança – há quem esteja pronto para defender o rock.
Basta ouvir o disco para se arriscar – Ben Thatcher e Kerr cresceram a ouvir Queens of the Stone Age. A bateria é certeira e sempre balançada ao limite do rock, pesada mas não em demasia e nunca alegre ao ponto de fazer bailar a credibilidade rock. E do baixo, mesmo ao vivo, os riffs são dignos dos melhores momentos de Songs for the Deaf. No Coliseu, a dúvida nem era se a música era boa. O dilema era se o mais negligenciado dos instrumentos rock podia substituir a sacrosanta guitarra. Sim, pode.
Depois do Armazém F se ter revelado pequeno – em Novembro chegaram a reservar data – o Coliseu foi perfeito para Thatcher e Kerr. Sem nunca levantar o pé, sem deixar o público abrandar e sempre a puxar em iguais doses por bateria, baixo e pela considerável colecção de efeitos, a noite foi para confirmar suspeitas. O som pode não ser o mais original. Todos sabemos que são muitas as bandas que não chegam a cumprir as promessas do disco de estreia e que o rock pesado está longe de ser, nesta altura, o mais popular dos géneros. Ainda assim, a julgar pelo afinco com que o público cantou e pela energia descarregada do palco, tal como o disco, também uma hora de concerto dá para voltar a arriscar. Há mesmo mais uma grande banda de rock.
Foi sem encore que os Royal Blood fecharam a sua primeira digressão. Não que o público não o tivesse exigido – nem faltou o provinciano grito por Portugal -, não que lhes tivesse faltado energia. O problema é que o sucesso internacional logo ao disco de estreia, além de eventualmente efémero, traz amarras – o reportório de quem tem menos de uma hora de originais não dá para milagres, mas deu perfeitamente para matar as saudades de um real concerto de rock.
Fotos: Hugo Amaral