Ruca Lacerda, baterista dos Pluto, começa a escrevinhar ideias à guitarra, formando os Supernada, também com Manel Cruz a bordo. O resultado é um disco denso e difícil, mas com uma riqueza rítmica invejável.
O sucesso dos Ornatos foi traumático para os seus protagonistas. Por isso, eutanasiaram a banda no seu auge, prosseguindo com projectos orgulhosamente obscuros. Os Supernada de Manel Cruz foram, porventura, os que levaram mais longe a auto-sabotagem. O nome da banda – um gigante nada! – e o do próprio disco – nada é fazível! – anunciam justamente que nada são. A carreira tem sido errática, lampejos fugazes entre longos períodos de hibernação. Nos seus 22 anos de vida, publicaram um único disco. A sua estética é deliberadamente anti-pop, esquivando-se ao conforto do formato canção. Quando surge um trecho orelhudo, pedem desculpa pelo lapso, dinamitando-o logo a seguir. O baixo é distorcido, decepando cabeças com o seu gume metálico. Manel Cruz deforma amiúde a sua voz lindíssima com um megafone comprado na loja dos chineses. A guitarra de Ruca é musculada, denunciando um consumo excessivo de Queens of the Stone Age. O álbum é demasiado comprido, um quarto dele é palha propositada só para chatear. Diga-se, porém, em nome da verdade, que o boicote melódico é compensado por uma riqueza rítmica extraordinária. A própria voz, muitas vezes mais falada do que cantada, é percussiva, sincopando como se não houvesse amanhã. As letras são deliciosamente manelcruzianas, e o facto de serem quase sempre indecifráveis é irrelevante para o caso. É possível que a música dos Pluto, dos Foge Foge Bandido e do Manel Cruz em nome próprio seja mais inspirada do que a dos Supernada. Mas não foram eles que escreveram “silêncio é a parte entre a arte e a morte / o resto é sorte / estamos só de passagem”. Só por isso, Nada é Possível ganhou. Estudassem…