
A Com Certos Músicos (organização do concerto) chegou ao Centro Cultural Dom Dinis com a promessa de reavivar aquele que em tempos foi um dos corações da noite conimbricense. E qual a melhor maneira de começar esta demanda? Com um concerto de Equations, é claro. A banda, a começar agora a tour de apoio para o fresquíssimo Hightower (saído em fevereiro), apresentou então, ao longo de uma hora e meia, este seu lançamento mais recente.
Ao contrário do anterior Frozen Caravels, que tinha a sua força numa mistura corretamente doseada de post-hardcore e math-rock, neste álbum o quinteto portuense decidiu apostar numa renovação do seu som, tendo como base para Hightower o rock mais espacial e progressivo dos 70s, embora o som dos teclados e a própria produção nos façam esquecer um bocado estas raízes e não nos deixem esquecer que este álbum é, de facto, de agora, com um olhar para o futuro.
A animação na noite de 19 de março começou passado pouco das 22h45, quando Bruno Martins, Gonçalo Duarte, José Cordeiro, José Santos e Vítor Barros entraram no palco vindos do meio do público, que por esta hora já ocupava mais de metade do salão de espectáculos do C.C. Dom Dinis. Abriram as hostes com “Afterlights”, primeira música de Hightower e, ao passarem sem interrupções para “Ascent”, segunda faixa do disco, uma questão ficava no ar: “será que estão a tocar o álbum todo de seguida?”. A resposta viria a ser dada no final do concerto; de facto, foi o que aconteceu. Pensando bem, talvez não fizesse sentido ser de outra forma. Já o próprio álbum tem uma sensação de continuidade; e, depois, é um álbum que conta uma história que, confesso, por falta de tempo ainda não consegui deslindar completamente, embora a banda ofereça um meio visual para ajudar nisto mesmo e complementar o álbum: uma banda-desenhada, que, com alguma pena, não consegui obter no concerto. Mesmo ainda não tendo escutado Hightower para entender completamente a sua história, a própria música emana esta epicidade, tão própria do prog-rock. E de que maneira ela se fez sentir neste concerto! Se às vezes no disco o som parece um bocado reprimido, ao vivo este liberta-se e ecoa de uma maneira espectacular, ganhando como que uma dimensão adicional, com um textura mais psicadélica e até hipnotizante. A instrumentação não permite senão outra coisa: camadas diferentes que se sobrepõe, partindo de pontos em comum, e que se vão acumulando numa grande coluna de som, “descontruída”, por vezes, como é o caso em “Echoing Green”, por um elemento (no caso, um teclado) que, de uma bela forma, fica a ressoar sozinho pelo ar da sala.
Depois desta, “Slow Trials” mostrou-se tudo menos lenta. Num compasso ritmado, foi crescendo sem parar, pondo toda a gente, pela primeira vez a sério no concerto, a abanar o corpo e a cabeça, como a própria música pedia. Passando pela faixa-título “Hightower”, só no final da selva sonora de “A Curious Empire” é que ouvimos a banda a falar, agradecendo ao público pela noite (que respondeu com uma grande salva de palmas) e partindo logo para uma última música, “SSSUUUNNN”. O sol triplo fez-se sentir na energia que as guitarras e teclados mostraram nos primeiros 4 minutos da música, enquanto a voz de Bruno Martins ia ocasionalmente gritando a frase “staring into the sun”. Depois a faixa, que até agora se vestia de um rock psicadélico algo agressivo (sombras do passado post-hardcore da banda?), metamorfoseou-se e, de repente, fomos levados até aos 70s alemães, com uma sonoridade a lembrar bastante o krautrock dos Neu! e, depois, num crescendo muito à maneira do post-rock, Godspeed You! Black Emperor, culminando num final intenso e a soar a derradeiro. De facto, só a salva de palmas prolongada fez a banda voltar ao palco, para uma música que, chegada ao fim, encerrou em definitivo a noite.
E foi nesta viagem louca que se passou uma hora e meia de concerto com os Equations, que deixaram todos felizes com um bom espectáculo e, certamente, de ouvidos atentos e ansiosos por trabalhos futuros. Mas enquanto isso não acontece, ver este álbum ao vivo é uma experiência que vale a pena ter e que, pessoalmente, espero poder repetir.
Fotos: Mónica Tomaz