
Saturday Night Fever. Aqui a febre era outra. Até faltaram as calças boca-de-sino. A divisa do terceiro, e último, dia de Rock Monster era a celebração do Rock ‘n’ Roll.
Pouco faltava para a meia-noite chegar e, apesar dos poucos indivíduos já instalados no Musicbox, já se sentiam as vibrações das melodias forjadas por jovens aliens da década de 70 que, ao viajar no tempo, vieram parar a 2014. The Zanibar Aliens, ao mero e injusto olho humano, pareciam uns miúdos de tenra idade cheios de pinta. Mas, ao mero e justo ouvido humano, assemelhavam-se a uns adultos libertinos, donos de uma invejável barba usando camisas com padrões de cornucópias. Apesar de, para muitos, vê-los ter sido uma estreia, notava-se um forte apoio com pequenos (e apropriados) nichos de mosh, que aqueceram o palco do musicbox. Era impossível não ficar entusiasmado com a semelhança da voz de Carl e das dinâmicas rítmicas da canção «The Door» a Robert Plant e aos lendários Led Zeppelin. Mas facilmente desmascaram outra faceta do grupo quando, Carl, vai para as teclas e, em «Welcome to Zanibar», os riffs que ameaçavam repetirem-se, não se perpetuaram. Apenas se transformaram numa lufada de rock progressivo fresco. Ainda houve tempo para umas canções novas de um longa-duração que está para vir: «Esta música ainda não tem nome, mas nós achamos que é do caralho!».
12h57 e o riff de «Damselfy» já estava a ser tocado. Eram os barcelenses Killimanjaro. Em Junho estrearam-se em Lisboa, no Lounge para o «Isto não é Milhões de Festa», e em meses tornaram-se peritos em palcos da capital. O público já estava mais composto e disponível para as valentes cavalgadas sonoras que a palhetada em palm mute que a guitarra emanava. Quem não conhecia Killimanjaro, não se sentiu indiferente. Imaginem a guitarra de Dave Murray, dos Iron Maiden, após ter consumido alguma substância psicotrópica do Lemmy, dos Motörhead, mas sem discriminar os elementos modernos do novo stoner rock. Provas para essa definição? O trio de barcelos patenteou tal agressividade em canções como «Seventeen», que foi dedicada aos Zanibar Aliens, que, de acordo com o vocalista/guitarrista José Gomes: «Tocam p’ra caralho!». Também houve tempo para mais “calmas”, incluindo a bluesy December, que teve direito a um coro tímido com a frase «I keep asking everyone». «Só mais uma!» foi o incentivo de um público eufórico para um encore que ditou o fim do concerto.
Pouco depois das duas ouvia-se um agressivo feedback que começou rapidamente a ganhar forma melódica. Típico dos 10.000 russos, que ficaram com a responsabilidade de fechar esta 1º edição de Rock Monster. E de outra forma não podia ter sido: negra e misteriosa. Cobertos por um psicadelismo negro, a bateria maquinal e o barítono vocal embriagado de reverb hipnotizavam os corpos de chegados e recém-chegados. «Lokomotiv Gobi» tornou as cabeças mais pesadas que os corpos, que se moviam como serpentes infectadas por uma guitarra distorcida, num caos ordeiro (quando em contexto com os outros instrumentos).
Para alguns a música claramente não estava a ser bem digerida, mas quem soube consumir o negrume deste final de noite e festival fez, inevitavelmente, uma reverência a um Monstro que esperemos que volte a aterrorizar as noites alfacinhas.
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Fotos e texto: Alexandre R. Malhado