Outubro chegou e o ameaço de Verão de há uns dias não passou disso mesmo. Um ameaço. Como que uma brincadeira dos Deuses dando um brinquedo e depois retirando ao fim de pouco tempo, não nos deixando gozar o suficiente. Chegámos ao Outono, não há dúvida disso e calor talvez só no Verão de São Martinho. Isto se os Deuses deixarem…
No entanto, há coisas que nem os Deuses nos conseguem tirar. Eles, que nos deram um dos bens mais preciosos que temos hoje em dia. A música. E essa não a vamos deixar escapar tão facilmente. E a noite de ontem era de celebração da música. Da boa!
Num Sabotage composto para um domingo à noite, embora os intervenientes de ontem merecessem ainda mais, o psicadelismo estava na ordem do dia. Como prato principal teríamos a banda canadiana Elephant Stone, conjunto composto por quatro elementos, destacando-se o vocalista, baixista e sitarista, Rishi Dhir, filho de um casal de indianos que se mudaram para Montreal, Canadá, nos anos 60. Como entrada no menu da noite psicadélica tivemos a banda portuguesa The Blue Drones que foi uma agradável surpresa para a maior das pessoas que ali foram parar para ver Elephant Stone.
Com um som que é uma mescla de Doors com um pouco de Hawkwind, juntando uns pós de Rock Alternativo dos anos 90, sobretudo devido ao tipo de voz do vocalista, Francisco Pacheco, os Blue Drones foram um belo aperitivo para o concerto que se seguia. Instrumentalmente impecáveis, conseguiram agarrar o público em momentos mais “espaciais” e poderão muito bem vir a ter uma palavra a dizer no rock que se faz em solo Luso.
Passava pouco das 00:30 quando os quatro elementos dos Elephant Stone entraram no pequeno palco do Sabotage, liderados por Rishi Dhir. De origem indiana, Dhir, apareceu descalço, trajando camisa de traços orientais e segurando no seu baixo Rickebacker muito parecido ao que Paul McCartney usava no início dos Wings, mas era a Sitar atrás de si que começava a deixar o público em ânsias para ouvir o instrumento exótico.
“Motherless Child – Love’s Not For War”, faixa que inicia o último disco de originais da banda canadiana, foi a música que abriu o concerto e deu logo o mote para o que esperar do concerto. Uma Pop psicadélica, regada aqui e ali com momentos mais orientais. No entanto, só seria a meio de “Child Of Nature – Om Namah Shivaya” que Rishi Dhir deixaria o baixo com um autocolante holograma dum Ohm, para pegar na Sitar e começar a dedilhar aquelas cordas mágicas para gáudio do público presente que começou a chegar-se mais à frente e a pegar nos telemóveis para tirar fotos. A Sitar, apesar de já ser um instrumento sobejamente conhecido no Rock ocidental, continua a ser, além de um objecto de rara beleza, uma atracção pouco vista em bandas ao vivo, sobretudo em Portugal.
Se por vezes há bandas que não conseguem replicar o som gravado em disco para os palcos, como aconteceu com os Temples na edição de 2014 do NOS Alive, outras bandas há que conseguem dar algo mais nos concertos ao vivo, superiorizando até o disco, como fizeram ontem os Elephant Stone. Muita distorção, muito efeito especial bem inserido e, claro está, a Sitar tocada ao vivo, embora não em todas as músicas, mas o suficiente para ter valido a pena tê-la presenciado ao vivo.
O concerto centrou-se no novo disco, The Three Poisons, que serviu de pretexto para uma digressão europeia que, ontem trouxe os Elephant Stone a Lisboa. A sua música, que variou entre uma pop mais orelhuda e alguns momentos mais pesados numa espécie de mistura entre rock de bollywood com rock industrial, faz lembrar uns Kula Shaker mais light mas mesmo assim, intensa. E o concerto de ontem teve alguns momentos intensos. Não queiram os Deuses também roubar-nos isso…
Fotos: Duarte Pinto Coelho