Não costumava ouvir muito rádio. E o meu pai não costumava ouvir muito boa música. Já tinha ouvido – e que bons discos que ele tinha para lá – mas às vezes falhava miseravelmente. Um dia falou-me na Radar e a partir daí voltei a ouvir rádio. Servia-me de despertador e de companhia para algumas noites mais pensativas do que conclusivas. Num desses serões, já tardios, encontrei a playlist certa para aquela hora da noite. Tentei apanhar uns nomes, mas eram vagamente imperceptíveis. Durante umas semanas não voltei a encontrar a hora certa, mas acabei por chegar lá por tentativa e erro. Descobri a Floresta Encantada e a mística do psicadelismo, do progressivo e do krautrock, apresentado pelas vozes de Tiago Castro e Ana Farinha.
Um ano e meio de programas depois, a Floresta Encantada instalou-se no Sabotage, no Cais do Sodré, e os rituais psicadélicos ficaram a cargo dos irmãos Pontiak, trazidos a Lisboa pelo Nariz Entupido. Um trio convicto em transmitir aos comuns druidas reunidos naquele espaço a libertação das mentes pela força dos instrumentos.
O rock tradicional americano dos Pontiak divergiu dos anos 70 que os influenciam para adoptar um formato mais stoner, que ganhou forma no último álbum, lançado em Janeiro deste ano. Foi por ocasião desse mesmo álbum, Innocence, que a família Carney fez esta paragem por Portugal. Por isso, ninguém estranhou quando a banda começou a disparar ritmos e riffs do novo trabalho, a fazer lembrar uns Kyuss nos seus anos 90. “Ghosts” era o tema apresentado e minuciosamente bem escolhido, por garantir a pujança necessária e a ambiência certa para um concerto do género. Depois de mais uma nova, “Shining”, sempre dentro da mesma corrente, o trio mostrou mais um tema neste registo, mas já com 7 anos de existência. Mas “Shell Skull” era apenas um aquecimento para a vibrante “Surrounded By Diamonds”, a malha mais possante do novo disco. Não foram porém esquecidas as músicas mais serenas como “Expanding Sky” ou “It’s The Greatest”; e que bem que souberam.
O tema “White Hands” ofereceu o primeiro travo a despedida, com uma batida quase tão melancólica como as vozes. Com “North Coast” ficámos no limbo entre o peso do rock e a nostalgia do que cantavam, até encontrarmos em “Left With Lights” o fim de um bom concerto, mas não de uma boa festa.
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(Fotos: Francisco Fidalgo)
Alinhamento:
Ghosts
Shining
Shell Skull
Surrounded By Diamonds
Part III
We’ve Got It Wrong
Laywayed
Expanding Sky
It’s The Greatest
Royal Colors
Lack Lustre Rush
Innocence
Lions Of Least
Beings Of The Rarest
White Hands
North Coast
Left With Lights