
Os Beach House já não são a banda que tocou no saudoso Cabaret Maxime em 2008 perante duas centenas de devotos. Uma mão cheia de discos impecáveis depois e recorrentes concertos em Portugal quase todos acima do ótimo, ei-los de volta a Lisboa.
O mau do concerto de segunda-feira: o espaço. O Armazém F é um espaço sem chama, obsceno no bar (mas isso ainda é o menos) e com precárias condições para a total fruição de um concerto como o dos Beach House. O próprio Alex Scally, guitarrista e compositor, contou que ficou satisfeito por saber que o concerto deste ano em Lisboa não seria no mesmo espaço daquele de há dois anos. O problema é que o era – apenas se chamava TMN ao vivo em 2013 e Armazém F em 2015. O músico lamentou, o público também preferia outro espaço (especialmente os que penaram ao frio numa longa espera para entrar….), mas não foi por isso que não se deu um concerto magnífico.
Depression Cherry e Thank Your Lucky Stars, os dois discos editados este ano, foram o mote evidente para a noite de segunda-feira. São discos que consolidam uma sonoridade e uma estética muito própria mas que, ao vivo, transportam os Beach House de 2015 para uma galáxia ainda mais rica. Ao vivo, há agora quatro músicos em palco (assumimos a falha e não nos recordamos se em 2013 já assim o era), e Victoria Legrand troca por algumas vezes os teclados por uma guitarra que, aliada à de Alex, incute um saudável peso a vários temas. “One Thing”, atirada às feras ali na reta final após a intempestiva “10 Mile Stereo”, é exemplo maior: catártica, densa, negra, muito rock e muito shoegaze, traz os Beach House até novos territórios. Sempre no lado certo da história.
Houve respeito pelos fãs de sempre, nomeadamente com a interpretação apenas a dois de “Saltwater”, tema número um do álbum número um do grupo, homónimo. Houve alguns temas já tidos por clássicos ou pelo menos de mais fácil identificação – “Myth”, “Walk in the Park” ou “Silver Soul” – mas houve quem suspirasse por ausentes como “Gila” ou “Zebra”. Diz quem não aprecia em particular que não há grandes diferenças entre as cantigas do grupo e que as mesmas podem incutir algum sono em ouvintes menos dedicados à causa. Entre o sono ou o sonho, os Beach House são, isso sim, sempre pop, únicos, habitantes de uma galáxia abandonada onde os únicos sons lhes pertencem.
O Armazém F não merecia o glorioso concerto dos Beach House. Mas o público português não se rogou a esse contratempo, lotou a sala numa fria segunda-feira, e entregou-se sem hesitações a Alex e Victoria. A noite de sono terá sido melhor e cheia de sonhos pop.
Fotos gentilmente cedidas por João Miranda