
Foi um banho de ternura o que a Banda do Mar deu ontem ao público do Teatro Tivoli BBVA – os primeiros que compraram bilhetes para os dois espectáculos esgotados de Lisboa, embora este fosse o segundo dia de concerto. Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Fred Ferreira arrancaram com um ligeiro atraso e tocaram pouco mais de uma hora. E o que apresentaram foi um registo de grande cumplicidade e carinho entre os três que transbordou para a plateia e deixou todos com um sorriso.
Não houve nada de super-grupo na postura dos três músicos, acompanhados de um baixista e de um guitarrista. O trio assemelhava-se mais a meninos de escola que decidiram formar uma banda para poder tocar com amigos e o ambiente era quase como se estivessem a tocar na sala de cada um. Arrancaram com «Cidade Nova» e seguiram rapidamente para «Me Sinto Óptima» e «Hey Nana», onde o público ensaiou os primeiros momentos de sing-along e de palmas a acompanhar Mallu. E despacharam logo o «single» «Mais Ninguém», tema mais conhecido da banda e tocado a ritmo acelerado com toques de rock.
A voz feminina dos Banda do Mar é uma figura poderosa e doce em palco. Mallu dança enquanto toca, a guitarra demasiado grande para ela, menina endiabrada que toca os calcanhares e desliza os pés com naturalidade, à boa maneira dos 60’s – ou não fosse a banda buscar inspiração aos Beatles. Marcelo é mais comportado, vai-se mantendo na guitarra e é ele o mestre de cerimónias e para quem todos olham na hora de arrancar. É ele também que agradece ao público as duas salas esgotadas e lembra que os que ali estão hoje foram os primeiros a comprar bilhete, com muita antecedência.
Tendo os Banda do Mar apenas um disco seria inevitável que, quer Marcelo quer Mallu, a dupla romântica em palco, revisitassem temas das suas próprias carreiras, o que resultou, para o público, numa espécie de concerto três em um delicioso. Foi Mallu, menina endiabrada, que começou, sozinha no palco, debaixo do foco do holofote, só ela e o público. Passou por «Velha e Louca» e «Sambinha Bom», rindo entre músicas, acompanhada pelas palmas do público. Já Marcelo Camelo aproveitou para passar por temas como «Doce Solidão» ou «Janta».
Já todos reunidos novamente arrancam com «Dia Clarear» a preparar para o encore. Marcelo permite-se a um momento de carinho com Mallu e toca encostado ao ombro dela. Seguem os dois para junto de Fred e abraçam-se os três, os amigos que quiseram fazer uma banda. Para terminar, um coro relativamente afinado do público sobrepõe-se aos acordes tocados e a banda sai do palco. Mas não se faz rogada e regressa praticamente em seguida para três temas que compõem o «encore». A fechar, «Muitos Chocolates», depois de Marcelo ter pedido ao público para se levantar – e a sala em peso levantou-se e, no fim, aplaudiu de pé.
Espectáculo consistente, sem grandes pretensões e muito pouca produção, a apostar apenas nas músicas e a destilar doçura. A Banda do Mar mostrou que se diverte em palco, juntos ou separados, independentemente das carreiras individuais de cada um. Nota negativa apenas para a qualidade do som no Tivoli BBVA: o microfone demasiado baixo e as guitarras demasiado altas tornavam o som muito distorcido e praticamente inaudível, sobretudo no 2º balcão. Quem ficou na plateia só sentiu problemas ao início. Foi uma pena mas a sala, adequada a tons mais tranquilos e espectáculos acústicos, faz demasiado eco quando chega a hora do rock n’ roll.
Fotos: Mafalda Piteira de Barros