O terceiro dos Ramones é mais do mesmo e ainda bem: simples, rápido, melódico e sujo. A banda mais influente a seguir aos Beatles não precisa de inventar a roda uma segunda vez.
Os Ramones fizeram sempre o mesmo disco: o sublime álbum de estreia de 1976, repetido até à náusea durante vinte anos. Em cada disco, existem sempre as mesmas duas canções: uma variante qualquer do “I Wanna Snif Some Glue” (rápida como uma rabanada de vento; obsessiva e engraçada como Joey Ramone); e uma variação qualquer do “I Wanna Be Your Friend” (terna homenagem à pop inocente anterior aos Beatles).
Cada uma dessas canções-protótipo é igual do princípio ao fim: a guitarra de Johnny zumbindo o ritmo como uma serra eléctrica; o baixo de Dee Dee tocando uma única nota por acorde; a bateria de Tommy fazendo um-dois, um-dois; a voz de Joey, doce e rude ao mesmo tempo. Em resumo, o revolucionário punk.
A chave para compreender os Ramones é então a sua esmagadora monotonia: uma monotonia tão implacável que até o tédio é trucidado pelo caminho. Quando finalmente nos começamos a aborrecer, o disco já acabou.
Fazer a crítica de Rocket to Russia é fazer a crítica a qualquer outro disco dos Ramones. “Teenage Lobotomy” é a típica canção tipo I: fresca e repetitiva como uma pastilha elástica de menta. “Rockaway Beach” e “Sheena is a Punk Rocker” são dois tradicionais exemplares da canção tipo II: os Beach Boys a cheirarem cola numa praia suja em Nova Iorque.
As letras são divertidas como sempre o foram, com o sentido de humor retorcido e a sábia estupidez de quem vê demasiada série B na televisão.
Rocket to Russia é então a monotonia elevada à condição de obra de arte, como uma pintura abstracta monocromática, mas sem a parte da chatice. Numa década corrompida pelo pretensiosimo prog, nada abaixo da simplicidade radical dos Ramones poderia salvar o rock.
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