Lançado no passado mês de Outubro, este The Agent Intellect é o terceiro álbum da banda de Detroit e segue na senda de Under Color of Official Right com o seu pós-punk com nervo, e que parece saídinho de finais de 70s, início de 80s, na senda de bandas como os Wire, the Fall, Pere Ubu, ou seja marginais mas com reconhecido mérito a longo prazo. Não quero com isto dizer que os Protomartyr são banda ao nível das enunciadas e que terão tal êxito, sou pessoa consciente das inúmeras variáveis que são necessárias conjugarem-se para que tal aconteça. Mas em termos sonoros a aproximação é notória e bem conseguida. Influência não é cópia, e esta é regra de ouro a ser seguida neste caso específico.
Comecemos pelo nome do álbum, que se baseia numa teoria criada há cerca de dois mil anos por Aristóteles sobre a ligação entre a mente e os neurónios, e a forma como o cérebro funciona, coisa que, ainda hoje, é um grande mistério para a maioria (relacionado com isto – ainda há uns dias li uma notícia sobre um caso nos Estados Unidos de uma indivídua que ficou cega há cerca de 10 anos devido a uma suposta lesão na córnea. Entretanto foi-lhe diagnosticada múltipla personalidade, 10 diferentes e uma delas recuperou a visão o que é, no mínimo, perturbante). Joe Casey, vocalista da banda, assume que foi de encontro a esta teoria no meio de alguns estudos que tem feito decorrente do facto da sua mãe ter Alzheimer (a ela é dedicada a muito mesmo muito intensa “Ellen”) e como isso impactou no seu processo de escrita, no tom geral do álbum. Em grande parte, The Agent Intellect explora o conceito da mente, e o impacto de factores externos e internos na sua debilitação.
Logo no arranque, “Devil in His Youth” mostra a perversidade potencial num ser humano desde tenra idade, em frases como “I will make them feel the way I do/ I’ll corrupt them ‘til they think the way I do.” Na que é, a meu ver, o ponto alto do álbum, “Pontiac 87”, recorda um momento na sua juventude quando o Papa João Paulo II esteve perto na cidade desse nome no Michigan, EUA, e ficou incomodado com o negócio que rodeava o evento com vendas de items religiosos que potencialmente ajudam a ascender ao céu. “Dope Cloud” arrasa com as várias hipóteses colocadas com um constante “That’s not gonna save you men!” É portanto de um disco que questiona, questiona o ser humano, os seus comportamentos, a sua postura perante o mundo que o rodeia, cada vez mais submissa. E é um portento de disco.