Steve McQueen junta as letras de Paddy McAloon à produção de Thomas Dolby para criar um clássico de sofisticação.
Swoon, em 1984, já prometia qualquer coisa, mas foi preciso a visão de um dos pioneiros do synthpop para fazer de Steve McQueen um disco que levou os Prefab Sprout para mais perto do estrelato. Lançado em 1985, não teve tanto sucesso como o álbum seguinte, de 1988, From Langley Park To Memphis, de onde saíram os singles “The King Of Rock ‘N’ Roll” ou “Cars and Girls”.
Os irmãos McAloon, Paddy e Martin, cresceram numa Inglaterra rural onde Paddy passou a adolescência a escrever canções enquanto ouvia de Beatles a Steely Dan, passando por Sondheim e Stravinsky. Chegou a pensar numa carreira eclesiástica antes de optar por se tornar numa estrela musical. Ficámos todos a ganhar com a decisão.
Em 1977 os irmãos criaram a Dick Diver Band, que no ano seguinte já tinha o nome actual “porque as bandas da altura tinham nomes assim”, segundo Paddy. Apenas em 1982 foi lançada a primeira canção “Lions In My Own Garden”. Em 1984 é lançado o primeiro disco, Swoon com canções menos usuais, segundo o vocalista e compositor. É uma música deste trabalho, “Don’t Sing”, que desperta o interesse de Thomas Dolby pelo potencial da banda. Paddy reuniu com Dolby e tocou 40 canções à viola. O produtor gravou todas e escolheu as 11 de Steve McQueen. Algures por esta altura juntaram-se Wendy Smith na voz e Neil Conti na bateria, que foi substituir Michael Salmon, antigo colega de escola dos irmãos McAloon.

Thomas Dolby, produtor deste disco e pioneiro do synthpop, tinha lançado o belíssimo The Golden Age of Wireless em 1982 e em Fevereiro de 84 The Flat Earth. Trouxe sensibilidade e tecnologia ao grupo com o uso do seu Fairlight, sintetizador com capacidades de sampling, praticamente uma DAW dos anos 80, que fazia coisas como apagar um barulho no meio de um take em vez de o repetir. O som de banjo na primeira canção de Steve McQueen, como muitos outros, foi criado no Fairlight.
“Faron Young” foi composta em 1974 com a perspectiva de alguém que não gostava de country como David Bowie, e surgiu aos 19 anos de Paddy McAllon que, influenciado por Station To Station, começou a estudar as técnicas e gostos de Bowie. Em “Apetite” ouve-se especialmente bem os frutos desta colaboração. O sintetizador de Thomas Dolby leva a melodia, a voz de Wendy Smith pontua os finais de verso e o timbre inconfundível e letra de Paddy fazem o resto. Mas a canção mais conhecida vem a seguir. “When Love Breaks Down” baseia-se numa experiência pessoal de McAloon. A canção vai crescendo, cada vez com mais sons a criar camadas até ao refrão. Mais uma vez a voz de Wendy Smith soa como se fosse um pad em teclas, algo que marca a carreira dos Prefab Sprout. Como curiosidade, esta música entrou na tabela de singles em 85, à segunda vez que foi lançada.
Outra das canções marcantes em Steve McQueen é “Goodbye Lucille #1”, conhecida como Johnny Johnny, onde “Life’s not complete/Till your heart’s missed a… beat” e deliciosamente mas previsivelmente acompanhada de um salto na batida.
Em 11 músicas há muito para descobrir e redescobrir num disco que, no seu todo, podemos dizer que supera o teste do tempo. Ao contrário de muitos outros, foi aclamado pela crítica no seu lançamento como um bom exemplo de pop inteligente onde a produção junta as pontas criando um trabalho homogéneo.