O primeiro regresso de John Frusciante dá aos Red Hot Chili Peppers o maior sucesso da sua carreira, num disco carregado de singles fortíssimos.
Nascidos em 1984, na Califórnia, os Red Hot Chili Peppers já passaram por muitos estilos, muitos alinhamentos, muitas vidas. A origem, com o vocalista Anthony Kiedis e o exuberante baixista Flea, assentou no rap e no funk, mas o grande sucesso chegou quando o grupo começou a soar mais diversificado e mais completo. Esse momento maior chegou em 1991, com o colosso Blood Sugar Sex Magik, à boleia de singles incríveis como “Give It Away”, “Under The Bridge” ou “Breaking The Girl” e da alta rotação que a MTV concedeu aos rapazes. A influência da guitarra original de John Frusciante, que com o baterista Chad Smith completa os membros clássicos dos Red Hot, foi então particularmente visível, contribuindo decisivamente para aquele que é, para muita gente, o seu disco preferido deste conjunto.
Com o mundo a seus pés, tudo começou a ruir, com Frusciante a ser expulso da banda devido ao seu crescente uso de heroína. Na encruzilhada, a busca por um guitarrista viria a recair em Dave Navarro, ex-Jane’s Addiction, cujo som mais pesado e psicadélico viria a marcar de forma profunda o disco seguinte, o magnífico e roqueiro One Hot Minute, de 1995, (que continua a ser o preferido do autor destas linhas). Este álbum não deu sequência ao grande sucesso de Blood Sugar Sex Magik e Navarro, também com problemas com drogas, foi à sua vida. Em Abril de 1998, Flea foi visitar o seu amigo Frusciante, acabado de completar um programa de reabilitação, convidando-o a voltar para a banda. O quarteto estava de novo junto.
O resultado desse reencontro foi a fase mais comercial e bem sucedida da carreira dos Red Hot Chili Peppers. Em Junho de 1999 chega às lojas este Californication, precedido pelo marcante single “Scar Tissue”, cujo som mais melódico acabou por reconciliar o público mais mainstream com a banda, algo que não foi caso único neste disco.

Californication é a libertação melódica da banda, mais apostada que nunca em canções cada vez mais perto do universo pop, mas sempre mantendo a sua identidade, através da voz cantada e rappada de Kiedis, da guitarra e da composição de Frusciante e de uma secção rítmica que não é superada no campeonato pop-rock.
Esta é a casa de sucessos como o já mencionado “Scar Tissue” (com aquele solo incrivelmente expressivo de Frusciante), “Around The World”, “Otherside”, “Californication” ou “Parallel Universe”. Foi o poderoso cartão de apresentação dos RHCP a toda uma nova geração, aproveitou o último estertor da MTV como canal de música, invadiu as rádios e encheu estádios por todo o mundo. A banda encheu os bolsos, ganhou um Grammy e vendeu mais de 14 milhões de cópias.
Esta fase e esta paisagem sonora manteve-se nos seguintes By The Way (2002), Stadium Arcadium (2006) e I’m With You (2011), todos com grandes singles. Ainda assim, nenhum foi tão marcante como Californication, que mostrou que o valor de uma banda está nas suas canções, e isso o disco de 1999 tinha para dar e vender, como uma comporta de êxitos que se rompe de repente. No Altamont, não somos daqueles que acham que quando se vende mais isso significa que se fez um melhor trabalho. Mas aqui, com este Californication, os Chili Peppers encontraram uma fantástica síntese: um disco comercial e muito bom, nas costas de canções maiores que a vida.
Entretanto, Frusciante já saiu da banda novamente e já está novamente de volta. Será que o quarteto vai aproveitar esta nova reunião para nos dar ainda mais pérolas?