As Porridge Radio foram rápidas a voltar aos discos, após um muito bem conseguido Every Bad (2020) lançaram em Maio passado Waterslide, Diving Board, Ladder To The Sky.
Disclaimer inicial: Sim, bem sei que já se passaram meses desde então e o Altamont não costuma demorar tanto tempo a lançar críticas aos discos que interessam, mas puxo para mim a culpa deste atraso, justificando-me com um problema crónico que é pôr em palavras a dificuldade em explicar o racional por trás da apreciação de um disco. Waterslide, Diving Board, Ladder To The Sky foi claramente o disco que mais ouvi este ano, e sempre que o ouvia ficava com o sentimento de que tenho de ouvir melhor para escrever algo digno. Passaram semanas, passaram meses e agora não resta tempo, há que escrever. Prossigamos.
A banda de Dana Margolin mantém-se no registo que me/nos conquistou em 2020 – a dar tudo em cada música, como a própria afirma em “U Can Be Happy If U Want To”: “And every song and every rhyme, nothing is mine / I’ll give it all to you, I don’t need anything”. Antes, logo no arranque do álbum, as exactas primeiras palavras em “Back to the Radio” são “Lock all the windows and march up the stairs / And you’re looking to me, but I’m so unprepared for it”, mostrando a fragilidade que lhe vai na alma perante esta nova fase da sua vida de ser líder de uma conhecida banda indie e o impacto que terá nas suas relações. Deixando todos os sentimentos aflorarem, serem expelidos qual vulcão em erupção, aparenta ser a única forma que Margolin conhece para tranquilizar o seu ser, partilhando connosco o que lhe vai na alma. A intensidade com que o faz, bem, é isso que torna as Porridge Radio pertinentes em 2022 – ou se entra no seu mundo de cabeça e a imersão é completa ou se acha tudo isto muito artificial e não se acredita na emoção – não há como ficar indiferente. Não há como ficar indiferente a quem nos diz obsessivamente “I don’t wanna be loved” cinquenta e sete vezes. Não há como ficar indiferente a quem partilha a incerteza premente de “I want one feeling all the time / I don’t want to feel a thing”. Não há como ficar indiferente ao desespero de “You’re all that I need / The top of my lungs / The top of my voice / You’re all that I want”. E, em cima disto, há uma base sonora cativante, que reforça as palavras e a voz de Margolin a entrar-nos como uma torrente.
O single lançado à cabeça, já referido acima “Back to the Radio” será possivelmente a melhor porta de entrada para quem ainda não conhece a banda de Brighton, mas, no que pode ser visto como uma “falha”, não há aqui uma canção explosiva pronta a conquistar o mundo, há antes um conjunto de treze canções (doze vá, já que a primeira é só intro) compacto e incisivo. Sem refrões nas canções, à boa moda da onda de bandas que recentemente têm saído do Reino Unido como Dry Cleaning, Fontaines DC ou Black Country, New Road, não é por aí que conquistarão as massas, mas esse já não é um projecto que vai na cabeça de bandas que arriscam ir ao rock e ao pós-punk buscar as suas influências para fazer música.