Projeto de um homem só, o norte-americano Mike Hadreas, Perfume Genius, lança por estes dias Too Bright, o terceiro álbum de uma imaculada carreira que conhece aqui o seu ponto mais alto até ao momento.
Disco de catarse, claustrofóbico e que se entranha pela sofreguidão que carrega, Too Bright é um trabalho atormentado e denso que, musicalmente, alia explosões e gritos do Ipiranga a toadas mais intimistas, mas que também elas escavam fundo em quem ouve e, principalmente, em quem canta e escreve. A homossexualidade de Mike não é aqui apontamento e curiosidade, antes traço identitário com reflexo direto nas canções.
As canções, ainda e sempre as canções. Pianos e elementos eletrónicos dominam Too Bright, embora o single de avanço, o imponente e magnífico «Queen», tenha indiciado maior abertura às guitarras. O trunfo maior de Perfume Genius reside no quão difícil é ouvir a sua música: este não é um disco que se oiça na procura de um soalheiro momento ou de um companheiro sereno para um jantar à luz das velas com a mais que tudo. Contudo a experiência é amplamente recompensadora.
Os momentos a sós, no piano, como no arranque e no final do álbum, são a porta de entrada e saída de um disco que é como uma pessoa. Escutar Too Bright é fazer-nos de convidados para o mundo deste homem. As cantigas que fazem o corpo do disco são como que conhecer o homem Mike Hadreas e o músico Perfume Genius. O que vemos e ouvimos é perturbador. E brilhante.
Não vale a pena destacar temas isolados. Quem apreciar música que retrata almas perturbadas e tiver comprado nos últimos anos discos de Antony & the Johnsons, Xiu Xiu ou da vanguardista FKA twigs terá aqui um novo amigo para aconchegar na prateleira lá de casa. Os restantes, tentem ouvir. Pode ser que sejam seduzidos e entrem neste mundo. A viagem não é fácil, mas vale a pena correr o risco. Tivesse o Altamont estrelas para classificar discos e Too Bright levava de mim tantas estrelas como os dedos de uma mão.