O novo trabalho de Sharon Van Etten é para ouvir com atenção. Dedicar-lhe uma hora, sem distracções, saborear o piano e a voz sussurrada e grave. Are We There, o quarto disco da norte-americana que nos últimos anos se afirmou como uma das mais acarinhadas vozes do folk alternativo, é o que nos traz uma maior produção. É cheio, completo, apaixonado e imensamente triste.
Logo a começar com «Afraid of Nothing», que abre o disco, de uma honestidade desarmante e que nos prepara para o que vamos encontrar nas faixas seguintes.
Segue-se «Taking Chances», um dos single que dispensa apresentações e já anda a rodar nas nossas rádios. Menos obscuro, o tema brinca com as guitarras e um toque que quase roça o pop, se não fosse a voz sempre dorida de Van Etten. O outro single, «Our Love», chega cheio de esperança e é talvez a única faixa verdadeiramente positiva do disco.
O álbum é de amor, romântico e dorido, mas em temas como «Your Love Is Killing Me» sentimos um pouco de Nick Cave nos tons obscuros e nas palavras. Já em «Tarifa», a guitarra e a voz sobrepõem-se a tudo o resto, com momentos de instrumentos de sopro que dão à faixa um toque épico, que também se nota em «You Know Me Well».
O disco evolui bem: até meio vagueamos pelos diferentes estados de espírito de Sharon. Melancólica, triste, feliz, com dúvidas. Ficamos a saber, como em «Tarifa», quais são os seus desejos, para logo a seguir, em «I Love You But I’m Lost», nos afundarmos num piano triste e nos seus receios. A sequência de «Break Me», «Nothing Will Change» e «I Know» é pura tristeza. A fechar, «Everytime the Sun Comes Up», que deixa uma nota de alegria, num tema bem construído e a desfazer toda a tristeza que Sharon foi construindo ao longo das últimas faixas.
Sharon Van Etten mantém neste disco o seu estilo confessional, mas sem perder contacto com as influências mais alternativas do seu estilo. Alguns dos instrumentos usados, aliás, são os mesmos que foram tocados por Patti Smith ou John Lennon. No entanto letras e voz sobrepõem-se a quase tudo o resto. É por isso que este Are We There tem de ser ouvido com cuidado, com atenção. Uma audição mais superficial torna o disco demasiado melancólico e a roçar o aborrecido, o que é um destino menos digno para o trabalho que Van Etten aqui nos deixa.