O dia era o 7 de Junho de 2015. Vinha de regresso do Primavera Sound no Porto. No carro todos dormiam, aproveitando para recuperar as energias dispendidas durante aquelas 3 noites. Sobrava eu, o rádio a debitar qualquer coisa, auto-estrada. Perdi-me em pensamentos e em espécie de balanço do que experienciara e a premissa que iniciou tudo era simples – Porque não há mais bandas novas a chafurdar no rock? No meio de tantos nomes que constituem um cartaz de um festival, cada vez se encontram menos e menos, quais aves raras em claro perigo de extinção. Nesse caso específico, do Primavera, só havia mesmo duas – Ought e Viet Cong, os primeiros com concerto marcado para as 2 da manhã, os segundos a tocarem ao mesmo tempo que Patti Smith. Ou seja, são poucos e ainda por cima, mal tratados. E é isto que se tem assistido nos últimos anos, mesmo puxando pela memória, não consegui ter mais que uma mão cheia de bandas que encaixassem nestes parâmetros. Uma delas são definitivamente, estes Parquet Courts, que fazem com este Human Performance prova de vida.
Se já o anterior Sunbathing Animal tinha sido consensual em termos de capacidade destes rapazes (pelo meio lançaram outro em nome de uns tais de Parkay Quarts, que no fundo são eles mas com banda desfalcada em 50%), Human Performance serve de confirmação pura e absoluta que estamos perante uma banda que toma em seus braços a pesada herança de manter o rock vivo. E fá-lo para várias sub-áreas do mesmo, conseguindo em apenas 14 músicas espraiar-se em sonoridades que vão desde o rock puro de uns Velvet Underground, ao punk de uns Sex Pistols, ao lado mais alternativo do rock dos anos 80 reflectido nuns Raincoats e The Fall. Mesmo em termos de letras, a diversidade é vasta, indo desde críticas à actuação policial (“Two Dead Cops”), passando por problemas de relações (“Human Performance”) ou ao modo de vida actual (“Pathos Prairie”) e chegando a falar apenas de pó (“Dust”). Esta última (que é a abertura do álbum) é riquíssima em termos de elementos utilizados e momentos criados, “motorizados” quase só com um chavão “Dust is everywhere / Sweep!”
Estamos no fundo perante uma banda inteligente, honesta, conseguindo por entre uma amálgama de influências criar a sua sonoridade sem ferir susceptibilidades nem ficando mal na fotografia. A meu ver são das que marcam para já esta década no que ao rock diz respeito.