Íamos a meio do ano da graça de 2014 quando por aqui vos reportei a minha felicidade/entusiasmo/excitação total tenho 17 anos outra vez e dou por mim a ouvir o disco todos os dias e a saber as letras com a descoberta dos Ought e do seu álbum de estreia More Than Any Other Day. Pois bem, passado ano e quase meio estou de volta para fazer ponto de situação da coisa.
Como frenéticas criaturas de internet e redes sociais que vós com certeza serão, estão a par de que muita coisa se passou no último ano e quase meio no nosso mundo, guerras por aí fora, economia no sobe e desce, política pelas ruas da amargura, cultura cada vez menos valorizada face a televisão de merda, etc, etc, etc. Adiante, aos Ought, pois bem com os Ought esteve tudo bem, obrigado. Vieram a Portugal, mais precisamente ao Primavera Sound no Porto tocar às 2 da manhã (uma injustiça tremenda, e ainda para mais naquele Parque da Cidade a essa hora faz frio como o camandro) e deram um concertaço, mostrando logo material novo que veio a ser integrado no novo álbum, este Sun Coming Down, lançado há 2 meses. Podiam portanto facilmente ser mais uma de mil bandas que lançam um bom disco, fazem uma tournée por festivais e já ninguém ouve o segundo disco (vidé Clap Your Hands Say Yeah).
Só que não. Aproveitaram a tournée para fazer e experimentar ao vivo novas músicas e terminaram a mesma com um álbum pronto a ser lançado. E um álbum que subverte totalmente a lógica do difícil segundo álbum de uma forma arrasadora. Como cresceram os Ought, como melhoraram, como integraram novos elementos no seu som, como conseguiram novamente arrebatar quem lhes está a dar atenção. Vou desde já pedir desculpa porque toda esta análise será bem mais emocional que racional, mas o que querem, é o poder da música, certo?
Desde o início, com “Men for Miles”, que o ritmo é frenético, mas depois acalma, depois acelera, o vocalista Tim Darcy vai mudando a letra do verso, a conquista das papilas auditivas é feita. Pelo meio há essa enorme pérola que é “Beautiful Blue Sky” (considerada a oitava melhor música do ano pela Spin), retrato de vida de rotina, mas com réstia de esperança no poder de cada um para mudar as coisas à sua volta. O álbum escorre num instante e conseguimos ter vislumbres de tantas boas influências, para além de Talking Heads já citados na crónica do álbum anterior, adiciono aqui os Television, os enormes Television. Parece-me uma comparação justa, pela sonoridade, pela postura, pelas letras, pelo pouco conhecimento exterior. Será que daqui a 40 anos nos vamos lembrar dos Ought? De qualquer forma, o importante é o aqui e agora. E no aqui e agora há que ouvi-los, senti-los porque bem merecem a vossa atenção.