Os Supercordas são mais um tesouro do Brasil, e uma pérola ainda praticamente desconhecida em Portugal. Integram genericamente a vaga do rock psicadélico brasileiro, mas na verdade são anteriores a fenómenos como os extraordinários Boogarins, tendo sido inclusivamente uma das influências destes últimos.
Bem na frente dos Supercordas temos o nosso amigo Pedro Bonifrate, que anda há vários anos a lançar óptimos discos, de Paraty para o mundo, quer em nome próprio quer noutros conjuntos, como é agora o caso.
Terceira Terra, agora editado, é apenas o terceiro disco desta banda, mas é impossível não o inserir na linhagem do que Bonifrate tem feito. Mas se, a solo, o vocalista trilha a via psicadélica em tons maioritariamente mais bucólicos e pastorais, em Terceira Terra temos mais electricidade, mais fuzz (ouça-se “Sobre o Amor e Pedras”, por exemplo), ainda que controlado. Essa é, aliás, a marca do artista, demasiado cerebral para se deixar perder em delírios excessivamente eléctricos ou pesados. A melodia e a história que as letras cantam, isso é o essencial.
Neste disco, que não tem necessariamente um conceito, os Supercordas falam da natureza, do homem e do seu lugar nela, mas também da cidade, da cidade de um qualquer futuro de uma distopia que ainda não conhecemos. Ecos do Brasil actual, também, da corrupção de Estado, mas tudo mascarado de poesia e alegorias, falando por símbolos e histórias universais. É desta matéria que se fazem os discos intemporais.
Ouça-se o tema-título, que encerra o álbum, que fala de uma utopia dos povos indígenas, a possibilidade de um mundo mais simples, mais lento, mais puro, que nos traz à memória o espírito de “O rastro do Jaguar”, do escritor brasileiro Murilo Carvalho.
Mais um disco muito bonito vindo do Brasil. Rock sim, talvez, mas com cabeça, coração e ideias.